Pesquisa com inalador de partículas de cloreto de sódio pode inibir replicação do coronavírus

A professora Cristiane Guzzo fala dos testes de laboratório sobre esse mecanismo inédito para ação antiviral, e que tinha sido usado apenas em tratamentos para retirar secreções de vias aéreas e auxiliar na parte respiratória

 22/02/2022 - Publicado há 2 anos
Cloreto de sódio – Foto: Reprodução/ Pixabay
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Testes realizados em laboratório mostraram que um inalador de partículas de sal (cloreto de sódio) foi capaz de inibir a replicação do coronavírus em células de macacos e de humanos. A pesquisa está na fase inicial e outros estudos ainda são necessários. Dependendo dos resultados, segundo os pesquisadores, a longo prazo pode ser uma medida econômica para lidar com a covid-19 e outras doenças respiratórias. Os dados estão no artigo Inhibition of Severe Acute Respiratory Syndrome Coronavirus 2 Replication by Hypertonic Saline Solution in Lung and Kidney Epithelial Cells, publicado no último mês de setembro na revista científica ACS Pharmacology & Translational ScienceEm entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, a professora Cristiane Guzzo, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, explicou que o objetivo do estudo era entender como o sal poderia ter efeito na capacidade do vírus de se reproduzir.

Em um primeiro momento, foram utilizadas células de macacos. Com “apenas 1,2% de NaCl já tinha 100% de inibição”, afirmou. Quando os cientistas utilizaram células do epitélio pulmonar humano, para a mesma concentração de NaCl, a eficácia foi de 90%. “Tem um resultado muito promissor do efeito do NaCl sobre a replicação do sars-cov-2”, destacou a professora. 

Cristiane destaca que, no experimento, utilizou-se o NaCl de alta pureza e água, sem contaminação de microrganismos ou outros compostos. “Compramos ele, produzimos em alta pureza e o mantemos estéril para fazermos os nossos experimentos e não ter contaminação com outros microrganismos.”

A pesquisa

Cristiane Guzzo – Foto: Arquivo Pessoal

A pesquisa está na primeira fase. Para ser utilizado em um possível tratamento, necessita de mais estudos e passar por outras fases, que incluiriam a produção de um inalador, como aqueles utilizados para resfriados. “Estamos continuando isso, com formas diferentes de conseguir chegar ao sal no pulmão e tentar validar a eficácia para um futuro tratamento para covid”, ressaltou a professora.

Outro ponto abordado por Cristiane é que a solução hipersônica nunca foi utilizada para impedir a replicação do vírus. No geral, os tratamentos que a utilizam são para retirar secreções de vias aéreas e auxiliar na parte respiratória. “Se ela mostrar eficácia, também terá outros efeitos benéficos para o corpo, como melhorar o sistema imunológico no local, ajudar a tirar essa secreção e ajudar nas vias respiratórias”, afirmou. 

Mecanismo de ação

Quando as células estão sob efeito do sal, ficam desbalanceadas e precisam diminuir a quantidade de NaCl, colocando-o para fora, o que necessita de um grande gasto de ATP (energia). Caso o vírus já tenha infectado essa célula, precisará dessa energia para realizar sua replicação. Porém, como tudo já foi gasto com o balanceamento da concentração de sal, não resta energia para criação de material viral. “Nunca tinha sido mostrado esse mecanismo e, entendendo ele, conseguimos prever se realmente o sal funciona com o sar-cov-2″, disse a professora.

Para ler o estudo completo, clique aqui.


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