Um estudo desenvolvido no Programa de Pós-Graduação em Economia Aplicada, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, mostra que houve uma diminuição de 49% na participação da indústria nos empregos em Piracicaba, interior de São Paulo.
“Em 2006, a participação de atividades industriais nos empregos localizados no polo dinâmico de Piracicaba era de 15,40% e, dez anos depois, recuou para 7,86%, uma variação porcentual de 48,98%”, detalha o economista Marcello Luiz de Souza Junior, autor do estudo que teve como orientador o professor Alexandre Nunes de Almeida, do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da Esalq.
A pesquisa tem como base informações disponibilizadas pelo Ministério da Economia (à época Ministério do Trabalho). O pesquisador georreferenciou cada vínculo de emprego formal existente nos Arranjos Populacionais (AP) de Americana-Santa Bárbara D’Oeste, Piracicaba, Campinas e Jundiaí em 2006 e 2016. “Nesta etapa, foram analisados 817.229 empregos e 62.992 estabelecimentos empresariais em 2006 e 1.182.879 empregos e 88.205 em 2016”, conta.
Ouça neste link o podcast com o autor da pesquisa.
Economia Urbana
O estudo aplicou os conceitos da Economia Urbana para entender a estrutura das cidades em uma região de grande relevância para o interior paulista e sua evolução ao longo de uma década.
Para o caso específico de Piracicaba, constatou-se a existência de um único polo dinâmico em toda a região compreendida pelos municípios de Piracicaba, Charqueada, Rio das Pedras e Saltinho. Em 2006, o referido polo era composto dos bairros do Centro e Cidade e Alta e partes dos bairros de Higienópolis, Paulista, Pauliceia, Parque do Porto e Cidade Jardim. Já em 2016, este polo se ampliou, deslocando-se em direção à Vila Rezende. “A relevância dessa região para o AP de Piracicaba é tanta que, em 2016, apesar de representar 0,24% da área total de todos os municípios mencionados, concentrava 19,62% do mercado de trabalho formal da região.”
A atividade industrial perdeu participação em detrimento do setor de Comércio e Serviços. Segundo Marcello Souza, em 2006 havia a coexistência do setor industrial e de serviços, distribuído da seguinte forma: Comércio Varejista (26,30% dos empregos), Atividades de Atenção à Saúde (10,09%), Serviços para Edifícios (Divisão 81), com 6,69%, Educação (4,51%) e Fabricação de Máquinas e Equipamentos (Divisão 28), com 4,39% dos vínculos existentes no subcentro. “Após uma década, essa lista de atividades passou a contemplar apenas o setor terciário, representado pelo Comércio Varejista (29,69%), Educação (8,32%), Alimentação (6,29%), Serviços para Edifícios (5,96%) e, por fim, Atividades Jurídicas, de Contabilidade e Auditoria (Divisão 69), com 3,89%”, detalha o autor do estudo.
Em complemento, o centro dinâmico do AP de Piracicaba replicou a transformação em curso da estrutura econômica da região, porém em maior intensidade, ou seja, a atividade industrial perdeu participação em detrimento do setor de Comércio e Serviços.
Região
Se considerarmos o AP de Piracicaba como um todo, a diminuição da participação da indústria nos empregos da região foi de 8,74%, ou seja, passou de uma representatividade de 39,66% em 2006 para 36,19% em 2016.
No AP de Americana-Santa Bárbara D’Oeste, que ainda contempla a cidade de Nova Odessa, por exemplo, no mesmo período, houve o surgimento de um novo centro dinâmico, totalizando dois polos na região, um localizado na zona central de Americana e que já existia em 2006 e o outro, recente, situado em Santa Bárbara D’Oeste. “Tal constatação aponta para a conhecida conurbação existente entre os municípios e reforça a necessidade de que as respectivas prefeituras estabeleçam e mantenham uma agenda conjunta de planejamento urbano, uma vez que ações definidas em uma cidade trazem implicações diretas a outra.”
Políticas públicas
Dada a relevância do tema, inúmeros estudos buscaram identificar onde estão os centros dinâmicos em grandes cidades, como Chicago, Los Angeles e São Paulo. Essas investigações, de acordo com Marcello Souza, oferecem aos planejadores urbanos informações relevantes para que otimizem a infraestrutura viária da região e a oferta de transporte público, por exemplo. “Além disso, os governantes podem utilizar esses resultados para antecipar a demanda do setor privado por acesso à estrutura tecnológica e mão de obra especializada e desenhar políticas públicas que tenham o objetivo de redistribuir a concentração de empregos no espaço urbano, melhorando assim o fluxo de pessoas.”
No Brasil, Marcello Souza lembra que a identificação de tais polos atratores de empresas e concentradores de empregos limitou-se, até então, às grandes aglomerações urbanas das capitais. “Esse fato motivou esta dissertação a aplicar o ferramental da Economia Urbana para entender a estrutura das cidades em uma região de grande relevância para o interior paulista e sua evolução ao longo de uma década, entre 2006 e 2016”, finaliza.
(ouça o podcast com o autor da pesquisa)
Caio Albuquerque, da Assessoria de Comunicação da Esalq
Mais informações: e-mail caioalbuquerque@usp.br