Estudo identifica alterações que podem ajudar no diagnóstico precoce da sífilis ocular

Com ajuda de exame que avalia fundo do olho, pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto detectaram lesões que servem de alerta para suspeita da doença

 06/07/2021 - Publicado há 3 anos     Atualizado: 17/06/2024 às 12:05
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Imagens: Flinders University College of Medicine and Public Health, Adelaide, Australia

 

Um exame oftalmológico comumente usado no sistema público de saúde pode auxiliar na identificação precoce de casos de sífilis ocular, doença sexualmente transmissível que pode não apresentar sintomas evidentes, dificultando o diagnóstico. Ela é causada por uma bactéria e, se não for tratada, pode causar perda irreversível da visão. Pesquisadores da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP encontraram lesões na retina que podem auxiliar no diagnóstico com base em um estudo feito com 54 pacientes que apresentaram inflamação ocular no Hospital das Clínicas da FMRP (HCFMRP).

Professor João Marcello Furtado, da FMRP – Foto: Arquivo pessoal

As alterações analisadas pelos pesquisadores envolvem a retina com manchas arredondadas, irregularidades, elevações e até descolamento. “É a primeira vez que são demonstradas alterações frequentes na retina em uma grande série de casos de sífilis ocular através do exame chamado de Tomografia de Coerência Óptica”, conta o oftalmologista e professor João Marcello Furtado da FMRP, coautor do estudo.

Os voluntários do estudo foram diagnosticados com sífilis ocular e o aparelho detectou alterações imperceptíveis ao exame clínico. Este exame já é usado no Sistema Único de Saúde (SUS) e em clínicas particulares para outras doenças, como glaucoma e degeneração macular. O procedimento não é invasivo e consiste na entrada de um feixe de luz que registra uma imagem de interna do olho do paciente.

“Nosso objetivo é que médicos oftalmologistas que não são especialistas em uveíte, inflamação no olho, possam suspeitar da doença quando detectarem estas alterações. A rápida suspeita, seguida da confirmação sorológica e tratamento adequado, diminui bastante a chance de sequelas permanentes na visão da pessoa acometida”, completa.

O estudo Optical Coherence Tomography Findings in Ocular Syphilis Involving the Posterior Segment of the Eye foi publicado pelo periódico Ocular Immunology and Inflammation  em abril e foi financiado pela Fundação de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Assistência (FAEPA) e do Australian Research Council.

Além do professor Furtado, o trabalho tem autoria dos pesquisadores Anagha Vaze, Genevieve F. Oliver e Justine R. Smith da Flinders University da Austrália; Tiago E. Arantes, do Hospital de Olhos Sadalla Amin Ghanem no Brasil; e Rafael E. De Angelis, Milena Simões e Renata Moreto da FMRP.

A sífilis no Brasil

Transmitida em relações sexuais sem camisinha ou durante a gestação ou parto, a taxa de detecção de sífilis foi de 34,1 casos por 100 mil habitantes em 2015 para 76,2 casos em 2018, segundo dados são do Boletim Epidemiológico de Sífilis 2020. Além disso, o informativo aponto que os índices permaneceram praticamente estáveis em gestantes e nascidos vivos durante a última década.

Entre os sintomas mais comuns está o surgimento de uma ferida entre 10 e 90 dias após o contágio. A lesão normalmente não dói, coça, arde ou tem pus e aparece em regiões como pênis, vagina, vulva, ânus, boca, etc. O tratamento, em geral, é realizado com o antibiótico penicilina benzatina, que deve ser prescrito pelo médico.

 

Ouça no player abaixo entrevista com o professor João Marcello Furtado para o Jornal da USP no Ar.

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Mais informações: e-mail furtadojm@gmail.com


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