Consumo de carne de caça traz benefícios para a saúde de crianças ribeirinhas na Amazônia

Pesquisa realizada com mais de 600 crianças mostrou que a ingestão frequente de carnes de paca, anta, porcos-do-mato e aves foi associada a maior concentração de hemoglobina no sangue, o que confere proteção contra anemia

 19/08/2022 - Publicado há 2 anos     Atualizado: 22/08/2022 às 16:15
Deficiência de ferro é a principal causa de anemia e de incapacidade em crianças menores de cinco anos no mundo. Nutriente é encontrado, principalmente, em carnes vermelhas – Foto: Assessoria de Imprensa da EACH-USP

 

Pouco se sabe sobre os efeitos do consumo de carne de caça na saúde e nutrição das populações humanas que habitam florestas como a amazônica. Um estudo publicado na revista Scientific Reports, liderado pela pós-doutoranda Patricia Carignano Torres, do Programa de Pós-Graduação em Modelagem de Sistemas Complexos da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, investigou a relação entre a ingestão deste tipo de alimento e a prevalência de anemia em crianças de seis meses a cinco anos de idade na Amazônia Central brasileira. Os resultados mostraram que se alimentar de modo mais frequente de carnes de paca, anta, porcos-do-mato e aves, por exemplo, está associado a uma maior concentração de hemoglobina no sangue – o que confere uma proteção parcial a essa população. Contudo, os pesquisadores alertam que essa não deve ser a única solução para eliminar a anemia. Investimentos em saúde, saneamento e educação também foram recomendados.

Participaram do estudo 610 crianças de 1.111 domicílios localizados até 250 quilômetros (km) de distância do centro urbano mais próximo. Os pais ou responsáveis responderam a um questionário sobre saúde e hábitos de consumo. Além disso, foi feito um teste da concentração de hemoglobina no sangue para verificar a presença ou não de anemia.

Foto: Assessoria de Imprensa da EACH-USP

Papel protetor

Nas comunidades ribeirinhas, quatro em cada cinco crianças de um a dois anos de idade comem carne de caça com mais frequência e cerca de um terço delas eram anêmicas. Na cidade, são duas em cada cinco e, nos domicílios rurais, a ingestão pode ser até quatro vezes maior.

Níveis elevados de hemoglobina foram associados a um maior consumo de carne de animais terrestres. O papel protetor desta proteína parece ocorrer apenas em domicílios vulneráveis, que são aqueles que comumente possuem os piores indicadores de saúde. Já em comunidades ribeirinhas, onde a dieta também é composta de peixes, a proteção contra a anemia foi parcial.

Foto: Assessoria de Imprensa da EACH-USP

A carne é fonte de ferro e a deficiência deste nutriente é a principal causa de anemia e de incapacidade em crianças menores de cinco anos no mundo. Essa deficiência prejudica o desenvolvimento físico e mental, afetando a saúde e o bem-estar da infância até a vida adulta.

Manejo sustentável

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A pesquisa aponta que uma estratégia mais viável seria investir na promoção do manejo sustentável da fauna, realizado pelas próprias comunidades rurais ribeirinhas. Isso poderia garantir a conservação de animais caçados e, ao mesmo tempo, prover o acesso a fontes de proteína animal ricas em ferro às populações vulneráveis da região.

Apesar disso, o acesso à carne de caça não deve ser encarado como a solução única para eliminar a anemia nessas populações. Segundo o estudo, é preciso também investir em saúde, saneamento básico e educação, já que os ribeirinhos da Amazônia sofrem de uma série de outras carências que interagem com esse problema.

Os autores do artigo publicado são Patricia Carignano Torres e Carla Morsello, do Programa de Modelagem em Sistemas Complexos da EACH-USP; Jesem Orellana, da Fiocruz; Oriana Almeida, da Universidade Federal do Pará; os pesquisadores independentes André de Moraes, Moises Pinto, Maria Fink e Maira Freire; e por fim, Erik Chacon-Montalvan e Luke Parry, da Lancaster University, este último o coordenador do projeto. Mais informações podem ser encontradas no artigo Wildmeat consumption and child health in Amazonia, publicado no site Scientific Reports em 6 de abril.

(Com informações da Assessoria de Imprensa da EACH-USP)


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