Com simulador de anestesia odontológica, estudantes não precisam mais treinar nos colegas

Projeto desenvolvido em parceria entre unidades da USP busca fornecer meios para aprimorar as habilidades de futuros dentistas

 07/12/2016 - Publicado há 8 anos     Atualizado: 24/04/2018 às 11:24
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O simulador conta com realidade tridimensional e sensação tátil – Foto: Gabriel Almeida/EACH

Pode parecer estranho, mas é uma prática comum nos cursos de odontologia o treinamento de anestesia local pelos estudantes nos próprios colegas. Uma parceria entre pesquisadores da USP deu origem a um simulador que pode ser uma alternativa para este treino prático, pois permite que o aluno tenha as sensações táteis do procedimento odontológico. Trabalharam juntos especialistas da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH), da Escola Politécnica (Poli) e da Faculdade de Odontologia de Bauru (FOB).

Fátima (à esquerda), Cléber Gimenez (centro) e Hélton Bíscaro no laboratório da EACH - Imagem: Gabriel Almeida/EACH
Fátima Marques (à esquerda), Cléber Gimenez (centro) e Hélton Bíscaro no laboratório da EACH – Foto: Gabriel Almeida/EACH

A comunidade da FOB sentia necessidade de trazer novas tecnologias para o preparo de seus futuros dentistas, e um simulador poderia ajudar a suprir essa demanda. O projeto foi desenvolvido ao longo do doutorado de Cléber Gimenez Corrêa, que foi co-orientado pela professora Fátima de Lourdes dos Santos Nunes Marques, da EACH, e o professor Romero Tori, da Poli.

O trabalho foi iniciado no Laboratório de Tecnologias Interativas (Interlab), da Poli, e continuado em conjunto com o Laboratório de Aplicação de Informática na Saúde (LApIS), da EACH, unindo, assim, a experiência em simulação na área de engenharia, da Poli, à experiência em treinamento virtual na área da saúde, da EACH. A professora Maria Aparecida Andrade Moreira Machado, diretora da FOB, colaborou, junto ao Laboratório de Simulação e Treinamento (LaSiT) da mesma faculdade, fornecendo especificações e dados para a construção de um “paciente virtual” realista.

A EACH ficou responsável por implementar e avaliar a interação háptica (sensação tátil) no simulador quando o estudante manipula a seringa e sente as estruturas anatômicas  – língua, mucosa, mandíbula e pele – no contato com a agulha, bem como o comportamento do anestésico e do sangue. A unidade do campus USP Leste também contribuiu gerando testes automáticos que verificam o funcionamento do programa, economizam tempo e aumentam a produtividade comparativamente aos testes manuais.

Fátima Marques afirma que o maior desafio do projeto foi tornar a simulação suficientemente realista, pois ela tem que responder de imediato à ação do aprendiz. “A aparência do paciente virtual também deve ser realista. Essas obstáculos são difíceis de superar, mas técnicas avançadas de processamento gráfico permitiram contorná-los”, conta a professora.

A pesquisa foi dividida em duas partes. A primeira foi iniciada em 2012, com criação de um primeiro protótipo do simulador de realidade virtual para treinamento, finalizado em 2014. Em 2016, deu-se início à segunda parte, que incluiu a implementação e avaliação da interação háptica em uma segunda versão do simulador de realidade virtual, a simulação do comportamento de anestésico e sangue, e a automatização da atividade de teste de software para sistemas com interfaces hápticas.

 O simulador conta com realidade tridimensional e sensação tátil - Imagem: Gabriel Almeida/EACH
O simulador conta com realidade tridimensional e sensação tátil – Foto: Gabriel Almeida/EACH

A finalidade do dispositivo baseado em sistema computacional é auxiliar no treinamento de dentistas, especialmente na aplicação de anestesia. Há poucas ferramentas disponíveis para esse tipo de treinamento, e os estudantes normalmente treinam nos próprios colegas. Além disso, o bloqueio do nervo alveolar inferior, que está ligado aos dentes incisivos, caninos, pré-molares e molares inferiores, apresenta uma alta taxa de insucesso por parte dos estudantes. Com a aplicação de técnicas computacionais e a utilização de dispositivos de realidade virtual, é possível construir ambientes virtuais para treinamento, com modelos para representar instrumentos, como agulhas e seringas, e estruturas anatômicas, como crânio, língua, mucosa e pele.

Fátima afirma que a simulação já é suficientemente realista e que foi aprovada por profissionais da odontologia, tanto que a FOB já está preparando um laboratório e adquirindo dispositivos hápticos, que fornecem a sensação tátil, para inserir o simulador no curso de graduação em Odontologia. Os testes de software continuam e os respectivos laboratórios da Poli e da EACH ainda estão trabalhando para melhorar o simulador. Para isso, estão buscando implementar visão estereoscópica para proporcionar visualização tridimensional e maior imersão do estudante, simulação do fluido anestésico dentro da seringa e elementos lúdicos, como pontuação e trilha sonora. Ainda pretende-se adicionar outras situações de simulação, uma vez que o atual permite apenas simular o bloqueio do nervo alveolar inferior.

Créditos

O projeto tem a participação da professora Fátima Marques, do professor Hélton Hideraldo Bíscaro e do aluno Matheus A. Ribeiro, da EACH; dos professores Romero Tori, da Poli, e Maria Aparecida Andrade Moreira Machado, da FOB. Também fazem parte do grupo o pós-doutorando Cléber Gimenez e a doutoranda Elen Collaço de Oliveira, da Poli. O trabalho conta ainda com o auxílio dos alunos da graduação realizando iniciação científica Lucas B. Capalbo, da EACH, e Gustavo Wang, da Poli, além do estagiário Lucas Sallaberry, também da Poli.

O Programa Nacional de Pós-Doutorado (PNPD) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia – Medicina Assistida por Computação Científica (INCT-Macc) apoiaram a pesquisa.

Com informações da Assessoria de Comunicação da EACH

Mais informações: e-mail fatima.nunes@usp.br


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