Presencialidade da obra é base de pensamento de teórico da arte

Pesquisa sobre Johann Winckelmann é baseada em análises do conjunto de obras do teórico

 10/11/2017 - Publicado há 7 anos     Atualizado: 12/01/2018 às 9:39
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Retrato de Winckelmann, de 1768 – Imagem: Wikimedia Commons

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Apesar de ser considerado o fundador da História da Arte – e também, vale dizer, da Arqueologia -, o influente teórico alemão do século 18 Johann Joachim Winckelmann permanece pouco estudado, sobretudo no campo filosófico, e desconhecido por muitos. É o que aponta o pesquisador Pedro Fernandes Galé, que,
motivado pela escassez de estudos sobre o tema, decidiu estruturar o pensamento do autor, analisando desde os seus primeiros textos até a sua principal obra, História da arte da antiguidade (1764). O estudo deu origem à tese de doutorado Winckelmann: uma história da arte entre a norma e a forma, vencedora do Prêmio Tese Destaque USP 2017 na área de ciências humanas.

Laocoonte – Grupo escultórico descoberto em 1506. Musei Vaticani – Cidade do Vaticano – Imagem: Pedro Fernandes Galé

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Vá e veja

Fundamental para a ascensão do neoclassicismo, Winckelmann lançou uma nova análise e compreensão sobre a arte da Grécia antiga. Mas não só isso. Conforme Fernandes explica, apesar de lidar com a norma clássica, própria da antiguidade grega, Winckelmann desenvolveu um novo método para traçar a história daquilo que estudava: partir da percepção da forma de cada obra (como esculturas e pinturas) para, depois, ver através do objeto, superando sua materialidade. E foi a partir desse contato com a obra, do “vá e veja”, que estruturou toda sua análise.

Nesse sentido, conforme a pesquisa demonstra, os objetos têm um papel central no trabalho do teórico: eles próprios são “elementos constituintes” de uma história a ser contada e não somente exemplos dela. Ou seja, toda história por trás de uma obra está contida nela própria, basta o observador saber apreendê-la. “Ele insiste o tempo todo: ‘sobre algumas coisas não adianta eu ficar escrevendo, vá lá e olhe’”, comenta o pesquisador. A “presencialidade da obra” e a “insistência no ver”, portanto, se fazem presentes em toda a teoria do autor, o que surpreendeu Fernandes. “Fiquei espantado com a unidade do pensamento dele, do primeiro texto que ele escreveu e não publicou à sua grande obra”, afirma..

Madonna Sistina, de Rafael, uma das obras analisadas pelo teórico – Imagem: Wikimedia Commons

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Um grande passado pela frente

De acordo com a pesquisa, as obras de arte possuem, ao mesmo tempo, um aspecto material e outro espiritual e, apesar do belo poder ser observado já nessa primeira faceta, é na superação da materialidade e no equilíbrio que se estabelece entre ela e a imaterialidade que se pode chegar à beleza ideal, em sua forma mais pura e elevada. Vale dizer que esses dois aspectos, contudo, são revelados apenas quando há economia de gestos, ações ou caracterizações no objeto; ou seja, é preciso dizer muito com pouco.

Conforme o pesquisador explica, para sentir o “todo da obra” e, assim, chegar à sua melhor concepção, é preciso preencher os vazios que ela apresenta com ideias já conhecidas. E é essa busca pelo ideal através dos objetos que possibilita uma aproximação entre passado, presente e futuro, em que, conforme a pesquisa, “o antigo deve se apresentar ao moderno para transformá-lo”. Sobre isso, Fernandes chama a atenção para o caráter sem fim do trabalho do teórico. “Podemos dizer que ainda somos pontos de uma linha que nunca termina que inicia uma nova direção num ponto chamado Winckelmann”, pontua na tese.

Tese destaque

O pesquisador conta que, pela estranheza do tema abordado, não esperava ver sua tese premiada, ainda que, de acordo com ele, seja o primeiro trabalho de fôlego sobre Winckelmann no Brasil e um dos poucos do mundo. “Na filosofia isso fica ainda mais raro. Outras pessoas já o estudaram, mas em outras áreas, sem essa preocupação de estruturar seu pensamento”, observa.

A tese de doutorado foi orientada pelo professor Marco Aurélio Werle e defendida, em 2016, no Departamento de Filosofia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP – o trabalho na íntegra pode ser conferido aqui.



arte: Caio Vinícius Bonifácio/Jornal.usp.br

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Pesquisas premiadas no Tese Destaque USP 2017

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