Literatura infantil em acesso aberto enfrenta desafios para se consolidar

Movimento de acesso aberto, inicialmente voltado para a produção acadêmica, ganha força em outras esferas, mas ainda precisa superar barreiras

 12/11/2018 - Publicado há 6 anos     Atualizado: 28/11/2018 às 11:47

Artigo da InCID: Revista de Ciência da Informação e Documentação avalia vantagens e desafios da literatura infantil disponível gratuitamente na internet – Foto: Tinta1975/Wikimedia Commons

.
A literatura para crianças comprovadamente desenvolve o imaginário infantil e, para isso, é preciso que o livro conquiste pela narrativa interessante e outras características que envolvam os leitores mirins no enredo das histórias e permita-lhes viajar e vivenciar aventuras e experiências diferentes que as histórias proporcionam. Com a tecnologia de hoje, é possível encontrar essas obras on-line para serem lidas em tablets, computadores ou smartphones. Isso é bom ou ruim? As autoras do artigo publicado na revista InCID: Revista de Ciência da Informação e Documentação põem em pauta as vantagens e desafios da literatura infantil em acesso aberto.

Dentre as vantagens da literatura infantil em acesso aberto temos um grande alcance dos leitores às obras na internet, baixo custo, diferentemente dos livros impressos, e “a disponibilização de histórias em domínio público e variedade de formas proporcionadas pelas tecnologias para o formato digital e eletrônico”, sem esquecer o papel dos pais, professores e bibliotecários: permitir e incentivar esse exercício on-line de leitura. Em contrapartida há as desvantagens ou desafios: as questões dos direitos autorais, a relutância dos autores a criarem obras para o formato on-line e a iniciativa de conquistar-se os leitores com textos e ilustrações que explorem as possibilidades dos recursos digitais e eletrônicos para os livros infantis.

O artigo apresenta o mapeamento da literatura infantil existente em acesso aberto nos idiomas português e espanhol, cujos sites mais relevantes constam listados no artigo. Não se trata aqui de desprezar os textos impressos, segundo as autoras, mas de explorar os recursos singulares possibilitados pela tecnologia. As autoras chamam a atenção para o fato de que “a literatura infantil é arte […] narrativa voltada para instigar a imaginação”. Salienta-se a visão adultocêntrica da literatura infantil a “formar as opiniões das crianças, influindo na apropriação da língua e da cultura”, por meio de lendas, contos de fadas, folclore, adivinhas, trava-línguas, etc. Hoje, além dessas modalidades, a literatura infantil retrata tópicos e questões do cotidiano “cujos protagonistas são crianças que resolvem seus problemas do cotidiano sem a interferência dos adultos”.

Cabe lembrar que o movimento de acesso aberto, inicialmente, era voltado para a produção acadêmica, mas cada vez mais ganha força em outras esferas, entre elas, a produção literária voltada ao público infantil. Não se pode esquecer, contudo, que “o acesso aberto gera outras necessidades, como a regulamentação dos direitos autorais das obras publicadas na Internet”. O projeto Creative Commons, concebido inicialmente nos Estados Unidos, foi idealizado exatamente para suprir essa necessidade de regulamentação dos direitos autorais, facilitando, com respaldo de leis, a circulação e difusão de obras on-line.

Os sites encontrados disponibilizam as histórias em texto corrido, sem a preocupação com as imagens e formatos, “o que deixa a desejar ao se tratar de literatura infantil, dificultando a leitura e deixando-a cansativa, sem fluidez”. Relacionando as análises dos sites e blogs em português e espanhol, pode-se observar que a forma de apresentação desmotiva a leitura, principalmente para as crianças, pois a parte visual não é atrativa. É preciso que os autores sejam estimulados ao hábito de publicar no formato digital em acesso aberto. Ainda quanto à forma, “percebe-se um enorme descuido na divulgação das histórias em relação aos direitos autorais, pois em sua grande maioria não apresentam o autor nem a data”, o que remete a uma falta de preocupação quanto à disponibilização de uma literatura infantil de qualidade.

As autoras consideram os desafios maiores do que as vantagens, o que pode estar relacionado com as poucas e “recentes iniciativas voltadas para esse setor”, tendo como exemplo que a “única base de dados efetiva encontrada foi o Portal Domínio Público”, no formato PDF, não recomendável porque é apenas a “transposição do impresso para o digital, desprezando as tecnologias disponíveis para tal”, as quais são capazes de proporcionar uma leitura mais atraente visualmente, convidando o leitor a imergir nas mais variadas histórias.

Concluindo, o artigo ressalta a importância da existência de sites de textos infantis para estimular e autonomia aos leitores mirins, pois são instrumentos valiosos na “formação de indivíduos criativos, participativos, críticos e leitores para a vida toda”.

Clarice Fortkamp Caldin – Doutora em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC e Professora Associada I na mesma Universidade.
E-mail clarice.fortkamp.caldin@ufsc.br

Priscila Machado Borges Sena – Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. E-mail priscilasena.ufsc@gmail.com

Jéssica Bedin – Doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação na Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC. E-mail jessicabedin06@gmail.com

Artigo

CALDIN, C.; SENA, P.; BEDIN, J. Literatura infantil em acesso aberto: análise das vantagens e desafios. InCID: Revista de Ciência da Informação e documentação, São Paulo, v. 9, n. 1, p. 130-145, 2018. ISSN: 2178-2075. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2178-2075.v9i1p130-145 . Disponível em:
http://www.revistas.usp.br/incid/article/view/133893 . Acesso em: 23 ago. 2018.

Margareth Artur / Portal de Revistas da USP


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.