Ato de ensinar se torna meio de sustento e integração de refugiados

Artigo publicado na revista “Cadernos Ceru” traz experiências de refugiados sírios no Brasil que oferecem aulas de dança, de culinária e do próprio idioma

 25/09/2020 - Publicado há 4 anos

Por Margareth Artur – Portal de Revistas USP

Aprenda a fazer o pão árabe: refugiados sírios usam a arte de ensinar como oportunidade de ganhar o sustento e de se integrar à cultura brasileira – Foto: Reprodução

No artigo Ensinar para aprender a viver em um novo mundo, a professora Célia Regina Toledo Lucena, do Centro de Estudos Rurais e Urbanos (Ceru) da USP, aborda alguns dados de uma pesquisa feita por organizações de migrantes na cidade de São Paulo. O texto traz algumas experiências de refugiados sírios que usam a arte de ensinar como oportunidade de ganhar o sustento e de se integrar à cultura brasileira. Dentre as atividades oferecidas pelos refugiados constam aulas de dança, receitas de culinária e o ensino do próprio idioma árabe.

O texto traz  relatos históricos sobre o deslocamento da população síria pelo mundo, apontando como algumas das causas os conflitos gerados com a guerra civil síria, que tiveram início em 2011. Em seguida, analisa algumas experiências protagonizadas por refugiados sírios: “Aprenda a fazer o pão caseiro da Síria”, “Viagem a Damasco” e “Dança Ritual do Oriente Médio”. O artigo foi publicado no volume 31, da revista Cadernos Ceru, de 3 setembro de 2020.

Dança ritual do Oriente Médio – Foto: Reprodução

Segundo a autora, é preciso pôr em pauta como se dá o processo de “replantar” a cultura do refugiado em outro país, já que “as identidades contemporâneas são instáveis, multiculturais e ‘além fronteiras’. As práticas  escolhidas pelos migrantes para serem desenvolvidas “definem o habitus [modo de ser de um indivíduo ligado a um grupo social] incorporado em sua primeira infância e são maneiras de fazer transferidas em malas de migrantes”. “Aprenda a fazer o pão caseiro da Síria” é uma típica tarefa integradora e de reconhecimento cultural e étnico nas comunidades ou grupos de refugiados.

Célia cita diferentes aulas ministradas por refugiados de vários países, além da ênfase do depoimento a respeito dos cursos de cultura árabe ministrado por Yaman, uma mulher síria. Também foi possível conhecer um pouco da cultura dos mexicanos, africanos e venezuelanos nas aulas veiculadas por sites das ONGs citadas no artigo. Os refugiados ensinam “para aprender a viver em um mundo novo”, explica.

Por fim, a autora afirma que “as práticas culturais vivenciadas em outro contexto estimulam a imaginação, a inventividade, a criatividade e a troca de informações e saberes”, experiências  que levam à construção de uma sociedade civil multicultural, em que é indispensável a valorização e o respeito às diferenças culturais.

Artigo

LUCENA, C.Ensinar para aprender a viver em um novo mundo“. Cadernos CERU, São Paulo, v. 31, n. 1, p. 268-280, 2020.  Acesso em: 09 set. 2020.

Mais informações: Célia Lucena, pesquisadora  do Centro de Estudos Rurais e Urbanos da USP e mediadora do Grupo Migrações e Identidades (Ceru-USP). E-mail mclucena@usp.br


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