Dados de localização de celulares sugerem que houve uma diminuição sensível na circulação de pessoas na cidade de São Paulo a partir do dia 14 de março, um dia depois de a prefeitura determinar a suspensão de eventos promovidos pelo poder público municipal e o governo do estado anunciar a suspensão das aulas na rede estadual de ensino, devido aos risco de disseminação do novo coronavírus. A análise é de um grupo de pesquisa sediado na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP, em parceria com uma startup que trabalha com soluções de inteligência para empresas.
Confira no vídeo a visualização produzida pelo Laboratório de Bioinformática
e Biologia de Sistemas Computacional da FCF:
Várias cidades do Brasil fizeram medidas um pouquinho diferentes umas das outras. Será que quando eu paro as escolas de uma cidade, vou parar a mobilidade lá, ou as pessoas começam a ir para o shopping, começam a ir para outros lugares? Será que se eu parar as escolas e os transportes públicos, eu isolo mais as pessoas?”,
exemplifica Nakaya. “Você consegue usar isso para monitorar e saber melhor quais são as medidas que mais funcionam para conter a epidemia; consegue melhorar a economia, no sentido de que você não precisa de repente parar todos os serviços”, completa o professor.
Os pesquisadores também analisaram a movimentação no aeroporto de Guarulhos e verificaram que, só no período de 17 de fevereiro a 22 de março, mais de 70 mil usuários visitaram o local – e muitos deles seguiram viagem para destinos localizados a mais de 2 mil km de distância.
Nakaya conta que percebeu que a abordagem daria resultados quando viu nos dados um aumento no índice de isolamento em São Paulo em dois dias atípicos. “Eu vi que tinha dois dias, uma segunda e uma terça, em que estava todo mundo isolado. Que diabo foi isso? Como é que segunda e terça estava todo mundo isolado? Aí eu vi que foi aquela segunda e terça que São Paulo estava alagada. Então, realmente, a gente está capturando momentos em que ninguém se move”, diz ele.
Dados de pacientes podem ajudar a conhecer a covid-19
A professora Anna Sara Schafferman Levin, médica infectologista do HC e colaboradora do projeto, contou ao Jornal da USP que o hospital obteve da Secretaria Estadual de Saúde uma listagem inicial de cerca de 600 pacientes diagnosticados com a doença. A base de dados inclui apenas a data de início dos sintomas e uma informação de contato. Estudantes da Faculdade de Medicina estão telefonando para essas pessoas para convidá-las a fazer parte do projeto.
Se a pessoa concordar em participar, ela autoriza a localização no celular e a gente não vai usar nada exceto a informação de onde ela andou”, afirma Levin.
Para os pesquisadores envolvidos no projeto, a análise dos dados de geolocalização pode ajudar os cientistas a refinar os modelos epidemiológicos e fazer melhores estimativas sobre o comportamento do vírus SARS-CoV-2.
“Tem um monte de perguntas que a gente não sabe responder sobre o covid-19. Uma pessoa antes de ter os sintomas, quanto tempo antes ela transmite; depois que ela tem sintomas, por quanto tempo transmite; se existe uma pessoa que a gente chama de super-spreader, uma pessoa que infecta mais gente – porque em algumas doenças tem pessoas específicas que espalham muito mais do que outras”, diz a infectologista do HC, sobre os objetivos do projeto durante a pandemia.
Mais informações: e-mail siposusp@gmail.com