Projeto Zibra permite sequenciamento de 54 genomas do vírus zika

Iniciativa que envolve cientistas do Brasil e do exterior sequenciou genomas em cidades do Norte e Nordeste do País

 26/05/2017 - Publicado há 8 anos
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Equipe de cientistas conseguiu realizar o sequenciamento completo de 54 genomas. Zibra Natal – Foto: Ricardo Funari / Zibra

Cientistas do projeto internacional ZIBRA – Zika in Brazil Real Time Analisys concluíram o sequenciamento completo de 54 genomas do zika vírus (ZIKV) em algumas cidades do Norte e do Nordeste brasileiro. Este foi o maior sequenciamento obtido na região e os resultados constam no artigo Establishment and cryptic transmission of Zika virus in Brazil and the Americas, recentemente veiculado na revista Nature. O projeto Zibra, composto de um grupo internacional de cientistas, tem como objetivo sequenciar mil genomas do Brasil para fornecer importantes informações epidemiológicas sobre a disseminação desta doença no País.

Laboratório móvel percorreu cidades do Nordeste, desde Belém (Pará) até Natal (Rio Grande do Norte). Zibra Natal – Foto: Ricardo Funari / Zibra

A bordo de um ônibus, onde foi montado um laboratório móvel, uma equipe de cientistas iniciou, no dia 29 de maio do ano passado, uma viagem percorrendo algumas capitais do Norte e Nordeste. Os pesquisadores realizaram o sequenciamento do zika nas cidades de Belém (Pará), São Luís (Maranhão), Teresina (Piauí), Fortaleza (Ceará) e Natal (Rio Grande do Norte). “Nestas capitais, foram sequenciados por completo 54 genomas de amostras de sangue humano e do próprio Aedes aegypti”, conta a professora Ester Cerdeira Sabino, diretora do Instituto de Medicina Tropical (IMT) da USP. Ela coordenou uma equipe do IMT, composta de pesquisadores e estudantes do instituto, que colabora no projeto. Ester é uma das coautoras do artigo, juntamente com Oliver Pybus, da Universidade de Oxford (Reino Unido), Luiz Carlos Junior Alcântara, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e Márcio Nunes, do Instituto Evandro Chagas (pesquisadores seniores). O artigo tem como primeiro autor o cientista Nuno Faria, do Departamento de Zoologia da Universidade de Oxford, no Reino Unido.

Cientistas do Zibra tiveram também como missão ensinar as técnicas a pesquisadores locais. Zibra Natal – Foto: Ricardo Funari / Zibra

MinION

Além do sequenciamento, os cientistas também tiveram como missão ensinar aos pesquisadores locais as técnicas que são utilizadas, principalmente o uso de um equipamento chamado MinION. Segundo a professora Ester, esta tecnologia portátil já foi utilizada com sucesso na epidemia do vírus ebola, em 2015, na África. O MinION permite o acompanhamento do vírus em tempo real. “Antes, tínhamos apenas algumas sequências que não eram tão longas. Com o sistema atual, além de termos as sequências completas, os dados são disponibilizados via internet e de forma imediata”, garante a professora.

Equipamento MinION possibilita análises de sequenciamento e disponibiliza dados em tempo real, via internet. Zibra João Pessoa – Foto: Ricardo Funari / Zibra

Os resultados obtidos no projeto Zibra fazem parte da investigação da trajetória do zika vírus desde que ele desembarcou no Brasil. Segundo o artigo veiculado na Nature, a transmissão do vírus nas Américas foi confirmada pela primeira vez em maio de 2015, justamente no Nordeste do Brasil. E de acordo com dados dos Boletins Epidemiológicos da Secretaria de Vigilância em Saúde, do Ministério da Saúde, o País apresentou o maior número de casos notificados de ZIKV em todo o mundo (mais de 200 mil em 24 de dezembro de 2016 e o maior número de casos associados à microcefalia e outros defeitos congênitos (2.366 confirmados até 31 de dezembro de 2016). Ainda de acordo com o artigo, “desde a detecção inicial de ZIKV no Brasil, mais de 45 países das Américas relataram transmissão local de ZIKV, sendo que 24 destes relataram doença grave associada ao ZIKV. No entanto, a origem e a história epidêmica do ZIKV no Brasil e nas Américas continuam mal compreendidas, apesar do valor dessas informações para interpretar as tendências observadas na microcefalia relatada”.

Equipamento portátil MinION – Foto: Zibra

O projeto Zibra possui dois laboratórios portáteis de sequenciamento de genomas no Brasil. Com a colaboração da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e Instituto Evandro Chagas de saúde pública no Brasil, o objetivo é sequenciar 750 genomas completos de ZIKV, cobrindo uma ampla região geográfica incluindo amostras históricas e de pacientes com uma variedade de apresentações clínicas. “Com estes dados serão facilitadas as estratégias de prevenção e combate ao vírus e as próximas ações do grupo devem englobar outras regiões do País”, conta a professora, lembrando que todo o projeto tem apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).

Mais informações com a professora Ester Sabino, no e-mail sabinoec@gmail.com


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