Jovem macho esmaga uma frutinha de grão-de-galo – Foto: Tiago Falótico/IP-USP

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Escavações recentes na Serra da Capivara, localizada no Piauí, revelaram ferramentas de até 3 mil anos usadas por macacos-prego. As descobertas foram feitas por primatólogos da USP, em colaboração com arqueólogos, principalmente da Inglaterra.
Em 2014, foram encontradas ferramentas de até 600 anos. Em 2015, com escavações mais profundas, ferramentas de até 3 mil anos foram achadas. A grande novidade é que há variações de tamanho entre elas. As mais antigas, por exemplo, são bem menores em comparação às mais recentes. Além disso, são muito similares às que os macacos-prego da Serra da Capivara usam para quebrar sementes pequenas. Há 3 mil anos, as pedras utilizadas eram menores, por volta de 100 gramas. Já entre 2.500 anos até 600 anos, as ferramentas ficaram maiores, muito semelhantes àquelas que, atualmente, os animais usam para processar jatobá ou castanha de caju.
Segundo Tiago Falótico, doutor em Psicologia Experimental (Comportamento Animal) pelo Instituto de Psicologia (IP) da USP, e um dos pesquisadores responsáveis, o trabalho tem por objetivo “estudar as ferramentas líticas em um contexto arqueológico”. As ferramentas líticas são pedras, de diversos tamanhos, utilizadas pelos macacos-prego principalmente para quebrar alimentos. Os resultados do trabalho foram publicados recentemente na revista Nature Ecology & Evolution.
“Essa variação de tamanho das pedras é uma coisa nova para primatas não humanos. Nunca tínhamos identificado no registro arqueológico. Conhecemos isso para humanos, mas agora mostramos que os macacos mudaram a utilização das ferramentas, variando seus tamanhos, ao longo de milhares de anos ”, explica Tiago, que atualmente é Jovem Pesquisador na Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP.
Seleção de pedras
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Os macacos-prego também selecionam as pedras. “Já fizemos vários experimentos de seleção de ferramentas. Então eles não pegam qualquer pedra e, sim, selecionam o tamanho adequado dentre o que eles tem disponível”, esclarece o pesquisador. Existe uma correlação entre a variação de tamanho da pedra e a sua finalidade.
Os motivos que levaram a essas variações ainda são incertos, de acordo com o pesquisador. “Não sabemos exatamente porque teve a mudança. Pode ter sido mudanças no ambiente, na tradição comportamental daqueles grupos. Então são várias hipóteses. Não temos dados para suportar nenhuma delas por enquanto.”
Como nem todas as ferramentas que os macacos utilizam ficam marcadas já que, geralmente, são poucos os casos em que eles usam muito a mesma ferramenta, todas as pedras estudadas e classificadas tinham marcas de uso. E não são apenas objetos líticos que esses animais fazem proveito. Os macacos-pregos da Serra da Capivara também constroem ferramentas à partir de varetas para desentocar lagartos e pegar mel. Mas como as varetas não podem ser preservadas no registro arqueológico, não foi possível identificá-las.
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Os macacos-prego têm um ancestral comum com os humanos há 40 milhões de anos. Houve uma separação entre os primatas do Velho Mundo (África) dos primatas do Novo Mundo (Américas). A linhagem do Velho Mundo como gorilas, chimpanzés e até o homem fazem uso de ferramentas. Já o único macaco do Novo Mundo que também utiliza ferramentas é o macaco-prego. “É um comportamento que surgiu independentemente, mas que é muito parecido com o que acontece na linhagem humana, que também usa ferramentas”, conta o pesquisador.
Tiago explica que essas novas descobertas podem contribuir muito no estudo da evolução humana. As duas espécies de primatas, humanos e macacos-prego, possuem várias características similares: são altamente terrestres, usam ferramentas e tem alto índice de encefalização (relação entre o tamanho do cérebro e o porte do animal).

Saiba mais sobre as etapas anteriores do estudo no vídeo abaixo:
Mais informações: e-mail tfalotico@gmail.com, com Tiago Falótico

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