Controle de neurônios (células do sistema nervoso) através de sinais luminosos. Esse foi o feito do estudante da USP em Ribeirão Preto, Benedito Alves de Oliveira Júnior, que desenvolveu equipamento e conhecimento utilizando a optogenética, técnica que une luz, genética e bioengenharia e depende de avançadas e caras tecnologias.
Aluno de biologia da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto (FFCLRP) da USP, Oliveira Júnior trabalhou sob orientação dos professores João Pereira Leite e Rafael Naime Ruggiero, ambos da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, desenvolvendo método nacional capaz de intervir em células do sistema nervoso e controlar atividades de neurônios específicos, no cérebro de um animal vivo, com precisão de milissegundos, “que é a escala temporal em que ocorre a ação entre essas células”, diz o aluno.
Mas a tarefa era “ir além do domínio da técnica e reproduzi-la em solo nacional a um custo reduzido”, conta Oliveira Júnior. Para baratear o estudo, a equipe manufaturou alguns dos equipamentos necessários e também utilizou ferramentas de código aberto na internet. Mas, como a optogenética é complexa e envolve altas tecnologias, “todo o processo tem sido realizado em diferentes etapas, da validação até a padronização da metodologia no laboratório”, descreve.
Para obter o controle neuronal, por exemplo, os cientistas usam engenharia genética. Oliveira Júnior explica que as células são previamente infectadas com vetores virais (vírus manipulados geneticamente para não reproduzir a doença), contendo genes que se expressam na membrana das células e as tornam capazes de responder a um estímulo luminoso. Essas células podem responder a “comandos de sinais para que ela ligue ou desligue”.
Premio Jovem Neurocientista
Com o sucesso da aplicação do método, Oliveira Júnior conta que conseguiram compreender melhor, em modelos animais de transtornos neuropsiquiátricos, “como o comportamento emerge e, principalmente, qual é o papel de um conjunto de células no surgimento e desenvolvimento de casos como depressão, esquizofrenia, epilepsia e Parkinson”. Pela façanha, o estudante da USP ficou com o Prêmio Jovem Neurocientista 2019, da Sociedade Brasileira de Neurociências.
A importância da optogenética como uma técnica de grande potencial é vista pelos cientistas tanto para pesquisas como para terapias. Vários grupos ao redor do mundo têm mostrado que ela atenua crises epilépticas em modelos animais. Este tipo de tratamento, acredita o aluno da USP, “seria muito interessante para pacientes resistentes a tratamentos farmacológicos”. Comparando com as terapias de estimulação elétrica já usadas atualmente, a optogenética oferece a vantagem de selecionar as células e não atingir desnecessariamente outras células, gerando efeitos colaterais.
Oliveira Júnior informa que atualmente existem dois testes clínicos sendo realizados nos Estados Unidos, utilizando a técnica para restaurar a visão de portadores de retinite pigmentosa, doença hereditária que degenera células fotossensíveis nos olhos. Mas, como a conclusão dos estudos estão previstos somente para o final da próxima década, o jovem neurocientista espera que até lá “outros testes clínicos para transtornos variados tenham começado”.
A pesquisa é fruto de projeto de iniciação científica de Oliveira Júnior realizado com bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
Ouça no player acima a entrevista na íntegra.
Por: Rita Stella