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Cientistas da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP, em Piracicaba, veicularam recentemente um artigo na revista PLoS ONE em que descrevem a variabilidade genética existente no germoplasma efetivamente usado (cultivares significativamente usados) no Brasil e a relação do nosso germoplasma com os demais ao redor do mundo.
O professor Roberto Fritsche-Neto, do Departamento de Genética da Esalq, um dos autores do artigo, considera que, apesar dos grandes investimentos em pesquisa em milho, por esta ser uma das principais culturas do Brasil, seus cultivares (variações genéticas da espécie que são usadas para compor os plantios comerciais) estão sujeitos a vulnerabilidades genéticas, instabilidades produtivas e também à baixa adaptação a novas regiões de cultivo. “Estes fatores podem comprometer significativamente o abastecimento dos mercados interno e externo do grão”, diz o cientista.
“Em relação à existência de variabilidade genética estamos relativamente bem. No entanto, não há como garantir que não estamos vulneráveis”, acredita. “Por exemplo, com o surgimento de uma nova doença, os riscos são imprevisíveis. Por outro lado, nosso germoplasma ainda tem sua base em materiais oriundos de regiões temperadas, o que é um grande complicador à adaptação a regiões importantes do nosso cenário produtivo, como o Centro-Oeste”, alerta.
Segundo dados do 11º levantamento da safra mundial de milho do USDA (Departamento de Agricultura dos EUA), o Brasil é o terceiro maior produtor mundial de milho, ficando atrás da China (2º) e EUA (1º). Mesmo ocupando esta posição, o País possui baixa produtividade média do grão. “Uma das principais razões para isso é que os cultivares plantados na região central são oriundos, em grande parte, de germoplasmas desenvolvidos na região subtropical do Brasil”, destaca Fritsche-Neto.
De acordo com o pesquisador, há cerca de 20 anos, a produção do milho era concentrada nas regiões Sul e Sudeste do País, num clima subtropical a temperado, com cultivo durante o verão. Com a migração do cultivo para novas regiões e a mudança da principal época de cultivo para o outono, houve uma grande mudança no ambiente agrícola da cultura e, consequentemente, na demanda por novas técnicas e tecnologias. “Infelizmente, a pesquisa demorou a perceber a velocidade e a importância desta mudança. Hoje muitos centros de pesquisa correm para tentar gerar as soluções.”
Domínio do exterior
Apesar de inúmeras universidades, Embrapa e demais centros de pesquisa brasileiros se dedicarem a estudos com o grão, o mercado de sementes no Brasil é dominado por poucas empresas, a maioria multinacionais. “Isso pode levar à vulnerabilidade, ou seja, a grandes perdas na produção devido a estresses bióticos e abióticos, pois além de poucas empresas, o número de cultivares que realmente são usados é muito pequeno.”
O artigo é resultado da pesquisa de Luciano Rogério Braatz de Andrade, defendida na Esalq em 2015, sob orientação do professor Fritsche-Neto. De acordo com o docente, a importância do estudo está em chamar a atenção do setor para a importância do monitoramento da diversidade genética que está sendo utilizada. Segundo ele, o Brasil possui hoje aproximadamente 400 cultivares de milho. “No Brasil, aproximadamente 20 cultivares são responsáveis por cerca de 90% de toda a área produtiva com milho”, contabiliza. Fritsche-Neto ressalta ainda que o estudo busca incentivar os nossos programas de melhoramento de milho a terem um melhor aproveitamento dos nossos bancos de germoplasma, usando materiais realmente adaptados às nossas condições climáticas.
De acordo com o pesquisador, a produção nacional não tem como foco principal a exportação. “No Brasil, o milho é um produto de consumo interno e dependente do mercado de suínos e aves, principalmente na elaboração de rações. Infelizmente, o consumo humano de milho por aqui é bem inferior se comparado ao mercado norte-americano e a países andinos.”
Mais informações: e-mail roberto.neto@usp.br, com o professor Roberto Fritsche-Neto