Uma pesquisa na Amazônia brasileira mostrou que, há 20 mil anos, durante o Último Período Glacial, chovia na Amazônia apenas metade do que chove hoje.
Essa é a conclusão de 11 anos de trabalhos com estalagmites encontradas na caverna Paraíso, no Pará, próximo ao rio Tapajós.
[embedyt] https://www.youtube.com/embed?listType=playlist&list=PLAudUnJeNg4sQwlfDd4TWSvfLV0TabLnM&v=pq58mpPX86o&layout=gallery[/embedyt]40 mil anos de história
O geólogo Francisco Cruz, professor do Instituto de Geociências da USP, participou da medição de pluviosidade dos últimos 40 mil anos naquela região da Amazônia.
Ele contou que é possível saber a quantidade de chuvas a partir da análise dos isótopos de oxigênio presentes nas estalagmites.
Estalagmites
As estalagmites surgem conforme a água das chuvas penetra no solo e, em gotas, chega ao interior das cavernas. Durante o gotejamento, o carbonato se acumula, formando torres a partir do chão.
O crescimento de uma estalagmite leva milhares de anos.
Os cientistas coletaram estalagmites da caverna Paraíso e delas extraíram oxigênio para fazer a medição das chuvas.
Isótopos de oxigênio
Os átomos de oxigênio podem ter diferentes números de nêutrons. Os que possuem 8 nêutrons são chamados de isótopos de massa 16 (8 nêutrons e 8 prótons). Os que têm 10 nêutrons recebem o nome de isótopos de massa 18 (10 nêutrons e 8 prótons).
A proporção entre isótopos 16 ou 18 em uma amostra indica a quantidade de chuva. Ser chove mais, haverá mais isótopos leves (massa 16).
Por outro lado, se chover menos em um período, haverá uma proporção maior de isótopos de massa 18 – mesmo assim, os de massa 16 continuarão sendo mais que 90% da amostra.
Contradições
A pesquisa concluiu que houve cerca de 50% menos chuvas no Último Período Glacial em comparação com a pluviosidade de hoje.
Foi uma surpresa para os cientistas, já que dados anteriores, coletados na região da Amazônia andina, apontam uma elevação das chuvas no período.
Isso mostra que a dinâmica Leste-Oeste não é regular na Amazônia.
E a floresta? Era uma savana? Outros estudos de fósseis com pólens de plantas devem lançar luz a essa questão.
Aplicações práticas
Os dados obtidos podem ser usados para melhorar os modelos de previsão do tempo para o futuro.
O artigo publicado na revista Nature pode ser lido aqui:
Hydroclimate changes across the Amazon lowlands over the past 45,000 years
Reportagem: Ana Paula Chinelli e Isabella Yoshimura | edição: Ana Paula Chinelli Imagens extras: Tobias Friedrich (IPRC), Dalcio e Marilda Beregula, Cifor, Planalto e Google Maps.