Nos centros urbanos, é normal encontrar pessoas que relatam problemas de sono. Segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), 72% da população sofre com essas questões, incluindo a insônia, condição mais conhecida. Isso representa, aproximadamente, 146 milhões de brasileiros. Esse desequilíbrio na hora do repouso pode atrapalhar o dia a dia, principalmente na hora de acordar para trabalhar ou estudar. É para ajudar nesses casos que serve o despertador, ferramenta que, para quem tem o sono em dia, deveria ser evitada.
Responsável pelo Centro de Medicina do Sono do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HC-FMRP) da USP e professor de Neurologia e Medicina do Sono, Alan Luiz Eckeli explica que o melhor despertador para a saúde é aquele localizado no corpo de cada indivíduo. “O ideal é a gente ter o despertar natural e para a gente ter o despertar natural temos de respeitar o nosso relógio biológico e o nosso número de horas de sono. Todos nós vamos ter uma sonolência natural quando é o nosso horário de dormir e a gente vai ter também um término do período do sono de maneira natural.”
Segundo o especialista, precisar de alarmes para, muitas vezes, se arrastar para fora da cama com muito esmero é uma sinalização de que é preciso dormir mais tempo, já que a pessoa “está acordando numa hora em que o relógio biológico indicaria ou gostaria que estivesse dormindo. Então, o desrespeito, podemos dizer assim, ao seu relógio biológico, ao seu tempo total de sono, leva à necessidade do uso do despertador”.
Cuidado com o susto
Portanto, é extremamente importante respeitar o relógio biológico e as horas de sono que, em média, variam de acordo com a faixa etária. Segundo a Fundação Nacional do Sono dos Estados Unidos, um recém-nascido pode dormir entre 14 e 17 horas por dia, mas a quantidade diminui com o tempo, até que, na terceira idade, o ideal é entre sete e oito horas de repouso. Apesar disso, Eckeli sabe que grande parte das pessoas não respeita a quantidade média pedida pelo corpo. Sendo assim, o despertador vira um grande aliado, mas é necessário dar atenção a alguns pontos, para evitar que a ferramenta se torne motivo de apreensão.
O tipo de som e a intensidade escolhidos para o despertador tocar na hora marcada podem fazer diferença. “Isso está associado a algumas variáveis. Uma delas é a intensidade sonora do despertador. Então, quanto maior a intensidade, mais abrupto vai ser o despertar e possivelmente mais ‘assustador’ ele poderá ser. Outro aspecto está relacionado com a qualificação desse som. Se você usar o som de uma sirene, um som agudo, certamente ele causa um desconforto muito maior do que um som que seja uma melodia, mesmo em alta intensidade.”
São vários os memes da internet que fazem piadas com alarmes de celulares e os relatos de sustos que seus usuários levam, até mesmo quando já estão acordados e o despertador de outra pessoa toca. “Fato é que está tendo um quadro de associação ao estímulo sonoro, uma sensação sua. É uma memória afetiva negativa, que estou chamando de desconforto. No momento em que você tem esse estímulo, tem essa resposta, é o que a gente chama de pareamento: um condicionamento de um estímulo a uma resposta que, no caso, é um desconforto. Isso não é bom, isso é ruim. Ninguém quer ter esse tipo de condicionamento e ter, em vários momentos ao longo do dia, esse tipo de memória, esse tipo de desconforto”, diz Eckeli.
Planejamento é o melhor amigo
Como frisou o professor, o despertador só é necessário para quem não tem um sono equilibrado. Ele observa que pouca gente se dá conta, mas o dia começa, realmente, ainda na noite anterior. Portanto, se tudo correr bem, o despertar vai respeitar o ritmo circadiano – a adaptação do organismo à duração do dia e da noite – e o ciclo sono-vigília, que é a repetição desse ritmo a cada 24 horas. “Se você fizer isso, não precisa do despertador. Caso precise do despertador, se organize para que você possa respeitar seu número de horas de sono, durma a quantidade adequada e use o despertador numa intensidade que não seja muito elevada, com um conteúdo que seja mais adequado”, conclui.
*Estagiário sob supervisão de Ferraz Junior
Jornal da USP no Ar
Jornal da USP no Ar no ar veiculado pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h, 16h40 e às 18h. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular.