“Série Energia”: Como a cultura da cana-de-açúcar evoluiu até chegar à energia sustentável

De produtora de açúcar no Brasil Colônia à versatilidade de subprodutos sustentáveis, como combustível verde e energia de biomassa, nos dias atuais

 25/08/2023 - Publicado há 11 meses
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Etanol é o combustível verde produzido a partir da cana-de-açúcar – Foto: Portal do Agronegócio
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A trajetória da cana-de-açúcar no Brasil transcende sua inicial exploração para produção do açúcar e emerge como um exemplo de como um cultivo agrícola pode ser substancialmente reconfigurado para atender às demandas crescentes por sustentabilidade energética e industrial. A recente divulgação de que a Cidade Universitária da USP, no Butantã, na capital paulista, abrigará a primeira estação do mundo de abastecimento de hidrogênio renovável a partir do etanol da cana-de-açúcar reacendeu o debate sobre a solução brasileira para a transição energética das frotas urbanas. Neste episódio vamos fazer um resgate da evolução do setor sucroenergético brasileiro e entender a importância dessa inovação no contexto nacional.

A cana-de-açúcar, inicialmente estabelecida no Brasil para a produção de açúcar ainda no período colonial, testemunhou um ponto de inflexão crucial quando as aplicações potenciais do etanol como combustível sustentável foram reconhecidas. Desde então a cana, antes predominantemente destinada à extração de açúcares, passou a ser processada para a produção de etanol. Esse marco foi o precursor da era sucroalcooleira, inaugurando um novo paradigma na economia agrícola brasileira.

Paralelamente, a busca pela eficiência e pela utilização abrangente dos recursos da cana-de-açúcar levou ao desenvolvimento das usinas sucroenergéticas. A integração de sistemas de cogeração, nos quais o bagaço da cana é convertido em vapor e eletricidade, foi um avanço significativo em direção a uma produção mais sustentável de energia. Isso resultou não apenas em um melhor aproveitamento do substrato vegetal, mas também em uma redução notável da pegada de carbono associada à produção açucareira.

Além disso, a emergência da indústria alcoolquímica consolidou ainda mais o papel polivalente da cana-de-açúcar. Derivados de biomassa foram empregados na síntese de materiais como polímeros biodegradáveis e produtos químicos de base biológica. A transformação da cana em um recurso precioso para a produção de uma ampla gama de produtos industriais ressalta sua versatilidade e contribuições para a economia circular.

No entanto, a evolução não se deteve nas conquistas já alcançadas. A transição para a produção de etanol de segunda geração e a captação de biogás a partir da vinhaça representam avanços recentes que aprimoram a viabilidade econômica e ambiental da cadeia produtiva da cana-de-açúcar. Fundamentados em processos bioquímicos e tecnologias de conversão, esses avanços prometem elevar ainda mais a eficiência na utilização da cana como recurso renovável.

Portanto, a cana-de-açúcar, ao longo de sua evolução histórica e científica, destaca-se como um exemplo notável de como a agroindústria pode abraçar a inovação e a sustentabilidade de maneira sinérgica. Sua metamorfose de uma commodity monocultural para um pilar multifuncional de desenvolvimento energético e industrial encarna os ideais de um futuro sustentável. Nesse contexto, a trajetória da cana-de-açúcar ressoa como um testemunho eloquente das possibilidades quando a ciência, a tecnologia e a visão de futuro se unem em prol da evolução positiva da sociedade.

A Série Energia tem apresentação do professor Fernando de Lima Caneppele (FZEA), que produziu este episódio com Murilo Miceno Frigo, doutorando e professor do Instituto Federal do Mato Grosso do Sul. A coprodução é de Ferraz Junior e edição da Rádio USP Ribeirão. Você pode sintonizar a Rádio USP Ribeirão Preto em FM 107,9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo no celular para Android e iOS.


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