O Brasil, reconhecido por sua liderança global na produção de etanol, está entrando em uma nova fase promissora de inovação e sustentabilidade energética. Com uma história rica na utilização da cana-de-açúcar para a produção de biocombustíveis, o País agora explora novas matérias-primas e tecnologias, posicionando-se na vanguarda do desenvolvimento de combustíveis renováveis e redução de emissões de carbono.
A jornada do Brasil no campo do etanol remonta ao século 16, mas foi na década de 1970 que o País realmente capitalizou essa rota energética com o lançamento do programa Proálcool. Esta iniciativa foi uma resposta à crise do petróleo, visando a promover o etanol como uma alternativa viável aos combustíveis fósseis.
Desde então, o Brasil se tornou o segundo maior produtor de etanol do mundo, com 27,5% do volume global, sendo superado apenas pelos Estados Unidos, que respondem por 54,9% da produção mundial. Na safra 23/24, a produção de etanol brasileira deve se situar nos 34 bilhões de litros, segundo a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica).
Recentemente, a diversificação de matérias-primas tem sido uma área de crescente interesse e desenvolvimento. Além da tradicional cana-de-açúcar, o milho emergiu como uma fonte importante para a produção de etanol, especialmente no Centro-Oeste do País. Essa expansão não só aumenta a capacidade de produção de etanol durante todo o ano, mas também contribui para o desenvolvimento econômico das regiões menos tradicionais.
Outra inovação significativa no cenário brasileiro de biocombustíveis é a otimização do uso do bagaço da cana para a produção de etanol. Esta abordagem é um exemplo proeminente do etanol de segunda geração (E2G), que se caracteriza pela utilização de biomassa celulósica. Ao exportar etanol produzido a partir do bagaço para a Europa, o Brasil não só ajuda a reduzir a pegada de carbono dos veículos europeus, como também abre novos mercados internacionais, reforçando sua posição econômica global.
Especificamente, o etanol de segunda geração engloba o uso de várias formas de resíduos agrícolas, incluindo palhas e cascas, além do bagaço da cana. Ao transformar esses resíduos em combustível, a tecnologia E2G promove uma utilização mais eficiente dos recursos naturais e contribui significativamente para a redução das emissões de carbono. Essa abordagem não apenas diversifica as matérias-primas utilizadas na produção de etanol, como também exemplifica o compromisso do Brasil com inovações sustentáveis no setor energético.
Além das inovações no setor de etanol, o Brasil está fazendo avanços no desenvolvimento de combustíveis sustentáveis para a aviação (SAF). O SAF é visto como essencial para a descarbonização do setor aéreo, uma área que tem recebido atenção global crescente devido ao seu impacto significativo nas emissões de gases de efeito estufa. A criação da Conexão SAF, um fórum que reúne instituições públicas e privadas, destina-se a promover o debate e o desenvolvimento de políticas que facilitarão a produção e o consumo de SAF no Brasil.
A Petrobras também desempenha um papel crucial nesta nova fase, com planos para instalar plantas de biorrefino que produzirão SAF. Estas instalações não apenas fortalecerão a infraestrutura energética do Brasil, mas também contribuirão para a meta nacional de redução das emissões de carbono.
Este movimento em direção a uma economia mais verde e sustentável é apoiado por políticas governamentais e iniciativas de pesquisa. A cooperação entre as três instâncias do governo (federal, estadual e municipal), a academia e a indústria é vital para superar os desafios técnicos e econômicos, garantindo que o Brasil não só continue a ser um líder em produção de etanol, mas também um inovador em soluções energéticas sustentáveis.
À medida que o Brasil avança nessa nova fase do etanol passa a gerar um impacto significativo tanto local quanto globalmente. Este é um testemunho do potencial do Brasil para liderar o caminho não apenas em termos de volume de produção, mas também na qualidade e inovação da energia renovável.
A Série Energia tem apresentação do professor Fernando de Lima Caneppele (FZEA), que produziu este episódio com Murilo Miceno Frigo, discente de doutorado e professor do Instituto Federal do Mato Grosso do Sul (IFMS). A coprodução é de Ferraz Junior e edição da Rádio USP Ribeirão. Você pode sintonizar a Rádio USP Ribeirão Preto em FM 107,9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo no celular para Android e iOS.