Reescrita jurídico-feminista revela violência de gênero contra mulher estrangeira e seus filhos

Segundo a pesquisadora que coordenou os trabalhos, o caso reforça a visão conservadora e misógina sobre a maternidade

 20/07/2023 - Publicado há 1 ano
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Mulher estrangeira – Foto: Freepik
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Neste episódio do Mulheres e Justiça a professora Fabiana Severi conversa com a advogada Luanna Tomaz de Souza,  professora, pesquisadora e coordenadora da Clínica de Atenção à Violência (CAV) da Universidade Federal do Pará (UFPA). Luanna conta sobre a reescrita do caso de uma estrangeira atendida pela Clínica de Atenção à Violência. Essa mulher já vivia há quatro anos no Brasil, alegando situação de violência no seu país de origem. Mesmo assim, sem ser ouvida,  teve sua prisão decretada e seus filhos enviados de volta ao seu país. 

A pesquisadora diz que a escolha por esse caso se deu em função da mulher ter sido atendida pela Clínica de Atenção à Violência e por isso o grupo ter uma relação mais direta com sua situação. A mulher teve, não só a prisão e extradição decretadas, diz a pesquisadora, mas também a busca e apreensão dos filhos, que foram enviados ao país de origem, sem ser ouvida, sem um laudo psicológico ou laudo social acerca da situação de violência vivenciada por ela e pelas crianças, mesmo já estando há quatro anos no Brasil e as crianças estudando e tendo laços.  “Esse caso reforça uma visão muito conservadora e misógina sobre a maternidade e que inviabiliza as situações de  violência retratadas.”

Luanna Tomaz de Souza – Foto: Arquivo pessoal

Na reescrita sob a perspectiva jurídico-feminista deste caso, segundo Luanna, o grupo trabalhou a partir da própria lógica da Clínica de Atenção à Violência, a multidisciplinaridade. Além da perspectiva feminista, foram  consideradas diversas áreas de conhecimento, como da psicologia e a jurídica, por exemplo. Nos aspectos jurídicos foram consideradas as Convenções de Haia, da Criança, de Combate à Discriminação contra as Mulheres e também aspectos como, por exemplo, da garantia dos direitos fundamentais, como do contraditório, de ampla defesa, que foi negado e, ainda, o debate sobre maternidade e alienação.

Sobre os resultados, Luana diz que a decisão traz uma reflexão sobre os limites do processo decisório, o quanto ele pode repercutir esses estereótipos e essas perspectivas limitadas e misóginas acerca das mulheres e podem ter impactos severos na vida dessas pessoas. “A reescrita traz também um aprendizado de novos processos com uma perspectiva mais multidisciplinar, mais colaborativa e comprometida com a defesa dos direitos das mulheres, o que assegura, por exemplo, o recente protocolo do Conselho Nacional de Justiça, ao determinar que uma decisão judicial deve considerar a perspectiva de gênero.” 

A Clínica de Atenção à Violência (CAV) é um projeto do Instituto de Ciências Jurídicas da Universidade Federal do Pará (UFPA), funciona desde 2016 em parceria com a Faculdade de Direito e com o Núcleo de Estudos Interdisciplinares Sobre Violência na Amazônia (NEIVA). O projeto tem como foco o enfrentamento às diversas formas de violência, inclusive proporcionando atendimento jurídico e psicossocial às pessoas em situação de violência.

A série Mulheres e Justiça faz parte do projeto Reescrevendo Decisões Judiciais em Perspectivas Femininas, uma rede colaborativa de acadêmicas e juristas brasileiras de todas as regiões do País que se presta a reescrever decisões judiciais a partir de um olhar feminista.

A série Mulheres e Justiça tem produção e apresentação da professora Fabiana Severi, da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto (FDRP) da USP, e das jornalistas Rosemeire Talamone e Cinderela Caldeira -
Apoio:acadêmicas Juliana Cristina Barbosa Silveira e Sarah Beatriz Mota dos Santos-FDRP
Apresentação, toda quinta-feira no Jornal da USP no ar 1ª edição, às 7h30, com reapresentação às 15h, na Rádio USP São Paulo 93,7Mhz e na Rádio USP Ribeirão Preto 107,9Mhz, a partir das 12h, ou pelo site www.jornal.usp.br

 


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