Em tempos cibernéticos é mais do que comum que as redes sociais se tornem uma espécie de currículo virtual onde empresas podem usufruir do que é publicado para uma avaliação mais profunda de seu candidato a empregado. Comportamento social exposto nas redes que não se adeque aos valores da empresa, por exemplo, pode pesar contra o candidato. E, tendo em vista um perfil público, essa prévia análise é uma realidade entre os recrutadores, mas existem limites e restrições.
Segundo Dimas Facioli, presidente da Facioli Consultorias, empresa que atua há mais de 30 anos em processos de recursos humanos, o que ele busca são informações complementares nas redes sociais antes de um processo de entrevistas formais. Além disso, a partir de um processo seletivo para saber se determinado candidato tem interesse na vaga, a empresa passa a avaliar a trajetória, quais as organizações que ele já trabalhou e basicamente as informações profissionais do candidato. “Não nos interessam as questões sociais. As outras informações que tem lá, obviamente olhamos uma ou outra das redes sociais não ligadas à questão do trabalho, mas o que nos interessa é a questão profissional”, afirma.
Facioli acrescenta ainda que é observado o nível de subordinação do candidato, quem é o líder dele, se será preciso abordar esse líder para uma conversa sobre o desempenho desse profissional, se ele recebeu algum prêmio e se tem alguma publicação, por exemplo. “É essa análise que fazemos, sempre olhando a rede profissional do candidato”, pontua.
A diretora de RH da costa oeste dos Estados Unidos Marina Bellissimo aborda também a importância das redes sociais na hora da contratação. Segundo ela, se o candidato tem uma conduta pessoal que vá muito oposta aos valores e ao estilo da empresa, isso pode prejudicar o processo de seleção. ”Todavia, nos concentramos muito, tanto no Brasil como nos Estados Unidos, na experiência profissional. Não usamos tanto as questões pessoais, a não ser que tenha algo muito relevante na rede que possa impactar”, afirma Marina. “Por outro lado, existem aqueles candidatos que têm uma rede social completamente alinhada ao estilo da empresa e que faz todo sentido, o que pode ajudar no processo seletivo”, acrescenta.
De acordo com ela, em sua empresa existem práticas e políticas que ensinam como usar a rede social no processo de seleção, além de treinamentos para contratar alguém única e exclusivamente pela experiência profissional. “Aqui nos Estados Unidos não podemos perguntar nenhuma questão pessoal durante a entrevista. Questões relacionadas a gênero, identidade sexual, onde mora, se tem filhos, hobbies, são questões que não são permitidas, justamente por não serem relevantes para o trabalho”, afirma Marina.
Além disso, a diretora de RH explica que, a depender do cargo, a ausência de redes sociais também pode ser um empecilho para o trabalho. Como exemplo, ela cita uma vaga para consultor de vendas. “Uma coisa é ele ter o perfil dele pessoal privado, isso não tem nenhum problema, outra coisa é se negar a usar a rede social que é um um veículo muito importante para o trabalho dele”, aponta.
Para Marina, um perfil pessoal ser privado não interfere em nada, sendo até preferível, dependendo do conteúdo, mas se a pessoa se recusa a usar redes sociais como Instagram e LinkedIn, isso sim pode influenciar no dia a dia do trabalho, porque são ferramentas importantes para o cargo.
Dentro da lei
Tendo em vista os limites para usar informações de redes sociais na contratação, Maria Hemília Fonseca, professora da Faculdade de Direito de Ribeirão Preto (FDRP) da USP, diz que as leis que protegem os candidatos e candidatas no momento do recrutamento, chamados de direitos pré-contratuais, são uma realidade no mundo do trabalho no Brasil. “Ou seja, o contrato não foi firmado ainda, mas há uma expectativa de que a seleção e a recrutação estão sendo realizadas e, portanto, encaminhadas no sentido de que pode se chegar ao fim e ser contratado”, explica.
Atualmente, as principais restrições no âmbito são quanto à ideia de exposição de dados e atos discriminatórios, inclusive em momentos pré-contratuais. “Essa é uma realidade jurídica do Brasil, em que, caso haja uma exposição, uma análise dos dados que fira a essência ou dignidade do trabalhador ou trabalhadora, poderá haver consequências.”
De acordo com Maria Hemília, atualmente, o que os candidatos a vagas de emprego devem ter em mente, principalmente no momento de um recrutamento, é que determinadas informações que estão nas redes sociais são públicas, e se assim quiserem mantê-las é um direito do trabalhador. Porém, uma vez que a informação é pública, é difícil ter certo controle.
Além disso, para se proteger de informações consideradas importantes, dados de estudos da área indicam que se utilizem contas pessoais e profissionais. “Principalmente informações pessoais, que são de caráter privado, não estejam na divulgação pública, ou seja, estejam em contas privadas só para aquelas pessoas diretamente autorizadas. Já em um ambiente profissional, trabalhar com contas públicas e destinadas a este nicho. Esses são pontos que vêm sendo tratados por estudiosos do tema”, finaliza Maria Hemília.
*Estagiária sob supervisão de Ferraz Junior