No Brasil, segundo dados do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), as classes C, D e F são as mais afetadas pelas doenças oculares que podem causar cegueira. As principais causas da cegueira, segundo o CBO, são: a catarata e o erro refrativo não corrigido. Essas duas condições são responsáveis por três quartos de todos os casos de deficiência visual.
A falta de acesso a consultas oftalmológicas pode ser um dos motivos para esse cenário, uma vez que, de acordo com pesquisa realizada pela organização Retina Brasil, cerca de 7% da população brasileira nunca foi a um oftalmologista e 42% não fazem visitas regulares, procurando um especialista apenas quando sentem algum incômodo nos olhos ou dificuldades de enxergar.
Para contribuir na reversão desse quadro, o Projeto Veredas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP oferece atendimento gratuito a essa parcela da população. Fundado em 2017, o Projeto Veredas tem o intuito de promover atenção, assistência, prevenção e educação em saúde para pessoas em situação de vulnerabilidade social e já atende cerca de 500 pessoas por ano.
Próximo atendimento
Suas ações começaram no assentamento rural Mário Lago, da cidade de Ribeirão Preto, e estendeu seus atendimentos para outros grupos, entre eles as pessoas em situação de rua e detentos. Os próximos atendimentos acontecem neste sábado, a partir das 8h, na Casa de Passagem Santa Dulce, na Rua Casa Branca, 1.655, no bairro Vila Brasil.
No planejamento do grupo, a ideia é que o projeto seja ampliado de acordo com as demandas e necessidades da população, e também com a capacidade de promover os objetivos da ação. “Uma evolução, que chega a ser uma novidade do projeto, é que nós estamos fazendo ações com grupos diferentes de populações vulneráveis, inclusive com imigrantes”, aponta João Marcello Fortes Furtado, tutor do projeto e professor da área de Oftalmologia da FMRP.
Furtado lembra que, após a pandemia, houve um aumento de pessoas em situação de rua e o Veredas passou a realizar mais ações, incluindo essa população no atendimento. “Pouco a pouco estamos estreitando relações com esses públicos para poder melhorar a saúde em geral, não só com ações, mas com orientação em saúde”, diz o professor.
Ainda segundo Furtado, o Veredas não se trata apenas de um projeto voltado para assistência oftalmológica. São realizados atendimentos de saúde no geral, com equipes multidisciplinares. No entanto, a oftalmologia é uma grande solicitação de todas as populações.
Obstáculos do atendimento oftalmológico
Para o professor, infelizmente o acesso ao oftalmologista na rede pública ainda é carente e, na maioria das vezes, também existe o fato de que a população acima dos 40 anos costuma usar óculos para perto, mas essa prescrição normalmente não é feita pelo médico geral. “Mesmo quando a pessoa consegue a receita, ela acaba esbarrando no custo do óculos. Então, nem todo mundo que tem a receita na mão vence todas as barreiras”, afirma o especialista.
As dificuldades dessa parcela da população não estão relacionadas apenas à consulta com o especialista, mas também com a locomoção até os locais de atendimento, e tudo isso foi pensado pelos coordenadores do Projeto Veredas. “A nossa ideia é ir o mais perto de onde a população mora, para o deslocamento também não ser uma barreira”, diz Furtado. No caso de pessoas que moram em assentamentos rurais, por exemplo, o projeto vai até o espaço onde estão acampados e procura por uma estrutura adequada para realizar as ações junto às lideranças do local.
Por Eduardo Nazaré e Susanna Nazar
Ouça no player abaixo entrevista do professor João Marcello Fortes Furtado à Rádio USP