Grandes eventos esportivos geram prejuízos financeiros e sociais

Investimentos bilionários em eventos como Olimpíadas e Copas do Mundo tornam-se inúteis no longo prazo por falta de uso e manutenção da infraestrutura

 03/09/2024 - Publicado há 5 meses
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Olimpíada de Paris 2024 ultrapassou custo inicial – Foto: – Foto: COI – gov.br
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A Olimpíada de Paris 2024 teve um custo de US$ 9,1 bilhões, com estouro de 115% no orçamento, que segundo o Comitê Olímpico Internacional seria de US$ 4 bilhões. Mesmo assim, o valor final foi 34% menor que a Olimpíada de Tóquio de 2021, que custou US$ 15 bilhões. Com isso, esses grandes eventos esportivos têm deixado prejuízos para as cidades-sede, de acordo com um estudo feito por economistas do College of the Holy Cross, nos Estados Unidos, publicado no Journal of Economic Perspectives.

O mau planejamento pode ser visto em complexos esportivos como a Arena do Futuro e o Parque Radical de Deodoro, localizados no Rio de Janeiro e construídos para a realização das Paralimpíadas e a Olímpiada de 2016, que tiveram que ser reaproveitados para outros objetivos ou até mesmo desmontados. 

 

Luciano Nakabashi – Foto: CV Lattes

Na Copa do Mundo de 2014, no Brasil, uma das cidades-sede, Recife, tinha como projeto a construção da Cidade da Copa. Além de um estádio novo e moderno, o projeto era ousado porque pretendia fazer no entorno do estádio uma cidade inteligente que seria a primeira da América Latina. O projeto que previa investimento de R$ 1,6 bilhão não saiu do papel. A área no entorno da Arena Pernambuco está deserta e abandonada.

 

O professor Claudio Miranda da Rocha, da Universidade de Stirling, no Reino Unido, e que também atuou na Escola de Educação Física e Esporte de Ribeirão Preto (EEFERP) da USP entre 2011 e 2017, diz que o legado desses eventos não é adequado. “São eventos curtos e que exigem uma grande transformação na infraestrutura das cidades. A maioria das estruturas esportivas olímpicas não é utilizada e algumas podem ser usadas de diferentes maneiras, mas é um investimento grande para um retorno pequeno para a cidade-sede.”

Para o professor Luciano Nakabashi, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP, falta planejamento para a questão. “O planejamento não é só para avaliar sobre os gastos necessários, mas para pensar nos investimentos e na construção de infraestrutura para os esportes que serão ou não utilizados posteriormente. Não faz sentido construir toda uma infraestrutura que só será usada no período das Olimpíadas”, diz.

Impactos negativos

Pesquisa realizada pelo professor Rocha na época dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, mostrou que os impactos do turismo após os jogos foram praticamente negativos. “As grandes cidades que sediaram os Jogos Olímpicos, como Rio de Janeiro, Londres, Paris, Tóquio, que já atraem um grande número de turistas, não precisam dos eventos para atrair mais.”

As pessoas também não passam a fazer mais esportes ou atividades físicas por conta desses eventos, com isso, não existem grandes impactos sociais, segundo Rocha. “Muitas pesquisas em diferentes contextos mostraram que não existe o que se chama de efeito inspiração, ideia de que se as pessoas assistissem aos eventos e a toda a performance maravilhosa dos grandes atletas olímpicos iriam se inspirar e se tornarem fisicamente ativas.”

Existem muitas críticas sobre as questões de sustentabilidade dos Jogos Olímpicos, afirma Rocha. “A ideia de uma dieta vegetariana que foi imposta na Vila Olímpica de Paris para que existisse menos consumo de carne e não instalar ar-condicionado nos quartos dos atletas não adiantaram, pois as delegações compraram os seu próprios ares-condicionados ou saíam para comer carne.” Ainda segundo o professor, outra questão foi a pouca interação com a comunidade local, “eles decidem o que querem e o que é melhor em termos de mídia e promoção política, mas pouco se importam para as necessidades da comunidade local”. 

Existe um grande número de cidades que são consideradas para sediar os eventos esportivos e que realizam uma pesquisa com a população local para saber se apoiam ou não, afirma Rocha. “Há uma aversão da população, principalmente em cidades em que existem pessoas mais informadas com relação a sediar os Jogos Olímpicos.” Roma, por exemplo, recusou a candidatura à Olimpíada de 2024 e justificou falando de especulação, lobbies empresariais, instalações nunca terminadas, como ocorreu em outras Olimpíadas, estruturas abandonadas, dívidas e sacrifícios para o povo. Boston (EUA) e Hamburgo (Alemanha) seguiram o exemplo da capital italiana.

*Estagiária sob supervisão de Ferraz Junior

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