
O 39º Congresso Brasileiro de Engenharia Biomédica (CBEB) promovido pela Sociedade Brasileira de Engenharia Biomédica (SBEB) realizou, no mês de setembro, no campus da USP de Ribeirão Preto, a final nacional do Biochallenge Brasil, competição nacional com fases regionais para desenvolver soluções para problemas da saúde.
A edição 2024 com o tema Tecnologias Assistivas contou com 13 equipes classificadas, que desenvolveram soluções para três categorias diferentes: motora, visual e auditiva. Organizadora do evento e coordenadora de projetos do Inatel, Luma Rissatti Borges do Prado explica que o objetivo do evento foi integrar e treinar os alunos a disseminar sobre a Engenharia Biomédica e a importância de se pensar em tecnologias para pessoas com deficiência.
Avaliações e resultados
Luma pontua que durante as fases de avaliação, inicialmente as equipes apresentaram um pitching, técnica de apresentação rápida, e em seguida foram realizadas avaliações práticas com base nas categorias propostas, todas elas voltadas para tecnologias assistivas.

Na categoria auditiva, os integrantes tiveram o desafio de criar uma solução assistiva através de um aplicativo para permitir que pessoas com perda auditiva consigam detectar sons do cotidiano. O vencedor da categoria foi o grupo Inimigos da FFT, que desenvolveu um software com mais de 512 classificações de sons, que ao detectar os barulhos pré-treinados notifica o usuário por meio da tela do computador. Segundo Diogo Godinho Schwartz, estudante de Engenharia Elétrica pela Universidade Nacional de Brasília (UNB) e integrante do grupo, o aplicativo também foi desenvolvido para função de celular, no qual tem a opção adicional de transcrição de fala. “O nosso projeto foi desenvolvido primeiramente para rodar no ambiente de computador, então ele capta os sons por meio do microfone, passa pela transformada de Fourier e com isso ele analisa o espectro do sinal por meio de uma rede neural e, posteriormente, manda para o usuário a notificação”, conclui Schwartz. Além de Schwartz, a equipe foi composta pelos alunos Erick Rollemberg Cruciol Figueiredo e Patrick da Silva Santos.
Já na categoria motora, o desafio dos candidatos foi desenvolver um sistema de controle para um braço robótico, disponibilizado pela organização do Biochallenge. Kelvin Lucas Ribeiro Cavalcante, integrante do grupo vencedor, Robio Metal’s Sons, detalha que a solução para o desafio proposto foi desenvolvida por meio do uso do sistema de eletromiografia, método de diagnóstico que analisa a atividade elétrica dos músculos e a condução de impulsos nervosos.
A equipe colocou eletrodos no braço do operador que usou os próprios sinais musculares para operar o braço robótico. O grupo também contou com a participação de Felipe Dal Cin Rodrigues Costa, Victor Alves e Evandro de Vasconcelos Queiroz Filho.

Na categoria visual, os participantes foram colocados, vendados, em um labirinto visando atravessá-lo, apresentando soluções para atender ao objetivo com algumas missões durante o percurso. O integrante do grupo vencedor da categoria visual, João Pedro Menezes Oliveira, explica que o projeto desenvolvido consiste em uma bengala inteligente para deficientes visuais, equipada com três sensores de ultrassom que auxiliam o usuário a perceber melhor seu entorno. Para a produção do projeto, Oliveira integrou o grupo com os participantes Samuel Antunes Vasconcelos de Morais, Leonardo Lopes e Lucas Barbosa Medeiros.
“As informações captadas pelos sensores são transmitidas por vibrações na bengala e nos óculos que acompanham o dispositivo. A bengala e os óculos se comunicam via Bluetooth, e ambos possuem uma autonomia de bateria superior a seis horas em uso contínuo” finaliza Oliveira.

Benefício social
Os desafios e soluções apresentadas convergem para o auxílio a pessoas com deficiência, além do aumento de investimentos na área de tecnologias assistivas. O coordenador da Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (SNDPD) Marcos Pelegrini entende que é importante a efetivação de investimentos que mudem a vida das pessoas através do uso de tecnologias que proporcionem a autonomia e a independência. Pelegrini entende que, como consequência do investimento às tecnologias assistivas, é gerado economia e sustentabilidade da rede de proteção social, uma vez que as pessoas deixam de adoecer e de impactar no sistema de saúde e na rede de proteção social, passando a contribuir para a sociedade e para a vida como um cidadão qualquer.
Diferentemente de anos atrás, o coordenador lembra que o País apresenta mais recursos tecnológicos, mas alerta para a utilização de produtos importados e avalia que a produção nacional pode facilitar o processo e gerar riqueza. “Os equipamentos importados carecem de atualização, manutenção e customização, então, por exemplo, o equipamento sofre com as condições climáticas, fator que não é considerado no local de fabricação.”
Cida Valença, gestora do Instituto Mara Gabrilli, avalia que apesar do Brasil ser um grande exportador de tecnologias, é necessário um maior investimento na área de produção de tecnologias assistivas, sendo o CBEB o espaço ideal de maior visibilidade para o setor. “Precisamos investir no potencial que temos, sobretudo, nos nossos pesquisadores, oferecendo maior visibilidade e possibilidade para que eles e a academia se aproximem da indústria do terceiro setor, como o caso do Instituto Mara Gabrilli”, conclui.
*Estagiário da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto sob supervisão de Rose Talamone