A Crise do Apagão, que aconteceu no início deste século, revelou para o Brasil a vulnerabilidade das usinas hidrelétricas durante períodos de estiagens mais severos. A partir dela, criaram-se investimentos para diversificar a geração de energia elétrica, mas foram suficientes para evitar novas crises ou o modelo de produção ainda é suscetível a colapsos? Pedro Luiz Côrtes, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da Universidade de São Paulo, responde em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1° Edição.
“O nosso sistema era muito dependente das condições hídricas das nossas bacias e a partir da Crise do Apagão o governo incentivou a construção de usinas termoelétricas para suprir a crescente demanda e dar mais flexibilidade para o sistema de produção de energia”, explica. Outro investimento do governo foi na interligação dos sistemas, de acordo com Côrtes, que possibilitou a transferência de energia entre regiões. “Ao longo dos últimos sete anos também tivemos um aumento significativo em plantas eólicas”, complementa o professor, “nós temos, principalmente no Nordeste, mas também no Sul do País, importantes áreas geradoras de energia a partir de fonte eólica, dando mais resiliência ao conjunto do sistema”.
Porém, essa resiliência mostrou-se insuficiente diante da crise atual. Para Côrtes, é preciso repensar e adaptar o sistema de geração e distribuição de energia de acordo com as mudanças climáticas atuais. “Os relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU alerta há vários anos sobre a ocorrência de eventos extremos, como estiagens prolongadas e severas que acontecem na bacia do Paraná ou episódios de chuvas muito intensos. E essas mudanças climáticas se apresentam de maneira intensa, o que demanda uma revisão do nosso sistema de geração de energia”, ressalta.
É necessário diversificar ainda mais as fontes de energia atual e direcionar investimentos significativos à energia eólica, por exemplo. “O que as usinas termoelétricas produziram em 20 anos, a energia eólica oferece ao longo de sete anos. Então, um prognóstico que faço é que, nos próximos dez anos, a energia eólica terá uma capacidade equivalente à das usinas termoelétricas instaladas”, reforça o professor da ECA. A energia solar também pode ser outra grande fonte de geração e abastecimento de energia, segundo Côrtes, como na microgeração solar em residências, tornando-as pouco dependentes da rede pública e fornecedoras em caso de superávit. “É uma solução que ainda é cara e demanda mais estudos para torná-la acessível. O que precisamos, efetivamente, é repensar o sistema de geração para que ele seja resistente e resiliente às mudanças climáticas.”
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