Brasil é o principal mercado de startups educacionais na América Latina

As chamadas EdTechs criam soluções para melhorar o processo de ensino e aprendizagem

 Publicado: 11/10/2024 às 15:42
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42% das 100 EdTechs mais promissoras da América Latina são do Brasil, de acordo com a premiação The Latin America EdTech – Foto: pch.vector/Freepik
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O Brasil se destaca como o principal mercado de EdTechs na América Latina, segundo o EdTech Report 2024, estudo realizado pela Distrito, plataforma voltada para o fomento à inovação. As EdTechs são empresas que utilizam a inovação e a tecnologia digital para criarem soluções voltadas à melhoria do processo educacional e aplicáveis a diversos níveis de ensino, de acordo com Antonio Marco Martins, doutor em História pela Unesp e coordenador do Supera Educa, programa do Supera Parque de Inovação e Tecnologia, que tem como objetivo apoiar a educação empreendedora. 

Antônio Marco Martins – Foto: Supera Parque

Essas startups desenvolvem ferramentas que facilitam o aprendizado, a personalização do ensino e a interação entre professores e alunos, seja em ambientes presenciais ou virtuais. “A flexibilidade dessas soluções permite que elas atendam tanto escolas quanto empresas, universidades e também instituições públicas”, afirma o coordenador. 

Em dezembro de 2023, a The Latin America EdTech 100, premiação promovida pela HolonIQ, plataforma de pesquisas de mercado com sede em Nova Iorque, apontou que 42% das 100 EdTechs mais promissoras da região eram do Brasil. Segundo a Distrito, o Brasil acumulou, de 2018 a 2024, U$475,6 milhões em investimentos, concentrando quase 80%
do volume da América Latina.

Para Martins, esse cenário reflete a fertilidade do ecossistema brasileiro de inovação para a criação de novos negócios. “O País tem um grande número de incubadoras, aceleradoras e investidores interessados em apoiar empresas de tecnologia educacional.”

Ribeirão Preto e região

Cristiane Miura – Foto: Linkedin

Na região de Ribeirão Preto há 29 EdTechs, segundo o Mapeamento de Startups da Região Metropolitana de Ribeirão Preto, feito pelo Supera Parque. Cris Miura, CEO e fundadora da Pontue, startup de Ribeirão, conta que o negócio surgiu das próprias percepções de defasagem no ensino. “A Pontue nasceu em 2017 a partir das minhas dores de sala de aula. Eu sou professora de redação e, durante mais de 15 anos, eu fiquei dentro de sala de aula e identifiquei o que eu poderia melhorar no desempenho dos alunos e na minha gestão enquanto docente.”

A oportunidade revelou para Cris que o maior incentivador para o surgimento de soluções educacionais são os inúmeros problemas no setor. Dados do relatório do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) de 2023 mostraram que 73% dos alunos não alcançaram o patamar mínimo de aprendizagem em matemática, 50% não conseguiram em leitura e 55%, em ciências. Outro dado relevante foi do Índice de Desenvolvimento da Educação (Ideb) 2023, no qual apenas dez capitais conseguiram alcançar a meta estipulada dois anos antes. “Nós temos um sistema educacional muito defasado e muito falho em um amplo sentido, o que é perceptível quando olhamos para os resultados do Ideb, por exemplo, então temos aí uma oportunidade muito grande e acaba sendo um ambiente muito fértil.”

Segundo a empreendedora, as EdTechs são uma alternativa na resolução de problemas de aprendizagem no Brasil, principalmente porque as startups têm liberdade para testarem novas ferramentas e se arriscarem, já que trabalhar em condições de incerteza é uma das características desse tipo de organização. “A escola não vai testar, por exemplo, uma tecnologia de inteligência artificial porque ela não vai correr esse risco. Quando eu estou falando que eu vou ter empresas olhando muito à frente para poder testar, eu estou tendo progresso na perspectiva de buscar alternativas para resolver problemas.”

Mesmo com a inovação sendo uma aliada, Cris destaca que a implementação ainda é um desafio por depender da integração entre formação, cultura e investimento. A professora conta que “a pandemia foi o momento em que precisamos usar tudo que havíamos investido e percebemos que não estava nada pronto, começando pela formação dos professores”. 

Pesquisa de 2020 do Instituto Península, organização social que atua na área da educação, mostrou que quase 90% dos docentes nunca tinham tido qualquer experiência com ensino a distância e 55% não tinham recebido suporte ou treinamento para atuar de maneira não presencial. A análise contou com a participação de 7.734 professores de escolas públicas e particulares do País. “É fundamental que haja uma formação para os docentes para que eles possam utilizar a tecnologia que está sendo adotada pela escola, mas também para que eles ampliem a visão da tecnologia para além do uso com o aluno, por exemplo, aplicando na gestão, em tarefas como lançamento de notas e elaboração de materiais”, diz a professora.

Para que a visão sobre o uso da tecnologia seja desenvolvida, é preciso que as escolas fomentem uma cultura de abertura ao novo, o que, segundo a empreendedora, amplia a visão quanto a importância da inovação e incentiva os investimentos na área. “A escola precisa ter uma cultura de se abrir para o novo, de entender que a inovação não vem para anular o que existe, mas sim para perenizar. Com isso é que nasce uma visão orçamentária, entendendo que esse é um investimento com retorno de médio a longo prazo, mas que vai contribuir com o processo educacional”, finaliza Cris.

*Estagiária sob supervisão de Ferraz Jr e Rose Talamone

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