Com a guerra na Ucrânia, a Rússia foi excluída do sistema de transações interbancárias internacionais (Swift). Apesar disso, os pagamentos pelo uso do gás russo ainda poderão ser efetuados por esse sistema. As sanções comerciais e econômicas impostas ao país poderão fazê-lo cortar o fornecimento de gás natural, o que dificulta à Europa cumprir as metas de redução de emissões.
Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, o professor Pedro Luiz Côrtes, da Escola de Comunicações e Artes (ECA) e do Instituto de Energia e Ambiente (IEE), ambos da USP, explicou que se imaginava a perda de poder russo no processo de transição energética europeu, mas o que se observou foi o contrário. “Há uma perspectiva de crescimento do consumo de combustíveis fósseis ao longo dos próximos anos e, ao mesmo tempo, há uma tendência de redução de investimentos de empresas ocidentais privadas na produção de petróleo.”
Isso porque essas empresas, que exploram petróleo, estão reduzindo sua atividade. Essa queda de produção poderá ser compensada pelas empresas estatais de petróleo e gás russas — que são menos dependentes de financiamento privado e de pressões ambientais. “Os Estados Unidos, por exemplo, estão retomando negociações com o Irã. […] Então essas participações de estados grandes produtores poderão crescer em substituição à participação de empresas privadas”.
União Europeia e taxonomia ambiental
A União Europeia tem trabalhado num sistema de taxonomia que classifica as atividades econômicas sustentáveis. “Isso facilita, na prática, desenvolvimento de projetos e investimentos sustentáveis e ambientais na Europa, pois há um sistema de classificação reconhecido em toda a União Europeia”, afirma o professor, como é o caso dos sistemas eólicos.
Apesar disso, com a Cop 26, a UE percebeu que teria dificuldade em cumprir, nos próximos anos, as metas de redução de emissões para alcançar a neutralidade climática em 2050. Nesse sentido, perceberam a necessidade, num período de transição, de fontes de energia que tivessem baixas emissões. “Para isso, ela [UE] resolveu incluir no sistema de taxonomia ambiental o gás natural e a energia nuclear”, explica Côrtes.
Nesse sentido, o professor destaca que, “com a guerra na Ucrânia, é importante lembrar que a Alemanha é grande consumidora desse gás fornecido pela Rússia. A dependência europeia do gás russo, que já é grande, poderá aumentar em um futuro próximo, dando maior poder de barganha para reduzir as sanções econômicas”.
No passado, já foi observado caso similar de uso de combustível fóssil como arma política, na crise da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), em 1973. “Infelizmente não sabemos quanto tempo essa guerra vai durar e para onde ela vai nos levar. É interessante verificar que, numa fase de transição energética, o gás natural é que ganharia espaço e relevância”, complementa Côrtes.
Brasil e aumento do petróleo
O Brasil tem uma alternativa, pelo menos ao abastecimento dos automóveis, que é o etanol. “Mas essa é uma política que nunca foi efetivamente desenvolvida: a de combustíveis ambientalmente melhores, de combustíveis verdes, como é o caso do etanol, do biodiesel.” Com isso, o País vai continuar sofrendo com esse problema da alta do petróleo nos mercados internacionais, enquanto não houver alternativas desenvolvidas pelo governo.
Jornal da USP no Ar
Jornal da USP no Ar no ar veiculado pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h, 16h40 e às 18h. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular.