Apesar da dificuldade de se cobrir uma guerra, mídia tradicional erra em unilateralismo e racismo

Carlos Eduardo chama a atenção também para a morte intencional de jornalistas por tropas russas

 07/03/2022 - Publicado há 2 anos

Logo da Rádio USP

A guerra na Ucrânia está com um espaço muito grande na mídia. O professor Carlos Eduardo Lins da Silva conta que William Howard Russell fez a primeira cobertura de guerra da história em 1854, na Crimeia, o que, de certa forma, se assemelha com a guerra na Ucrânia. “Então, a Ucrânia tem uma história já na imprensa, principalmente na que se especializa em cobertura de guerras.” 

Silva ressalta também a questão da desinformação nas guerras. No atual contexto ucraniano, quem está tendo destaque é a plataforma Tik Tok, o que acaba não oferecendo uma visão completa a respeito. “Eles são pequenos pontos que, mesmo que sejam verdadeiros, não dão ao público uma noção do que de fato ocorre na Ucrânia, o que de fato ocorre nesse conflito.”

Com a pressa em trazer a notícia, a mídia tradicional acaba replicando coisas que, não necessariamente, estão dentro do contexto. “Inclusive algumas dessas informações, que depois se comprovam totalmente falsas, têm saído em veículos até de prestígio”, afirma o professor. 

Silva explica que a guerra está sendo coberta de forma unilateral e pouco se sabe da versão e das razões da Rússia.  Mas, para ele, a Rússia também “não facilita em nada a possibilidade de se obter informação do lado dela, porque dificulta o máximo possível a obtenção de informações independentes”.   

A mídia tradicional tem escorregado, no entanto, conforme o professor, é a melhor que há. “Por exemplo, a CNN, com todos os seus problemas, tem mantido uma equipe de mais de 70 pessoas na Ucrânia. Não é simples cobrir guerra nenhuma, muito menos nessas condições atuais dessa guerra na Ucrânia”, pondera. 

Além dessas questões, Silva chama a atenção para uma das grandes falhas cometidas pela grande mídia: a questão do racismo. “Como se as mortes, as perseguições e as desgraças dos ucranianos fossem piores do que as dos iraquianos no passado ou outros quaisquer que não sejam brancos e de olhos azuis.”

Por fim, o professor fala a respeito das mortes de jornalistas, como foi o caso de um jornalista e cinegrafista ucraniano, que foi morto por um bombardeio na torre de televisão onde trabalhava, em Kiev, por tropas russas. “Como lembrou a organização Repórteres Sem Fronteiras, visar a jornalistas intencionalmente é crime de guerra. Eu acho que esse é um dos crimes pelos quais o regime de Putin deveria ser responsabilizado e teria que responder por eles”, afirma.


Horizontes do Jornalismo
A coluna Horizontes do Jornalismo, com o professor Carlos Eduardo Lins da Silva, vai ao ar quinzenalmente, segunda-feira às 8h30, na Rádio USP (São Paulo 93,7; Ribeirão Preto 107,9) e também no Youtube, com produção  da Rádio USP,  Jornal da USP e TV USP.

.


Política de uso 
A reprodução de matérias e fotografias é livre mediante a citação do Jornal da USP e do autor. No caso dos arquivos de áudio, deverão constar dos créditos a Rádio USP e, em sendo explicitados, os autores. Para uso de arquivos de vídeo, esses créditos deverão mencionar a TV USP e, caso estejam explicitados, os autores. Fotos devem ser creditadas como USP Imagens e o nome do fotógrafo.