Desde a crise econômica mundial de 2008, desencadeada pelo estouro da bolha do sistema imobiliário dos EUA, especialistas vêm promovendo análises sobre o avanço do autoritarismo nos países em desenvolvimento. Essas nações, que por muitos anos foram consideradas, de certa forma, a esperança para o desenvolvimento econômico internacional, têm enfrentado recentemente imensos desafios na solução de problemas sociais por vias democráticas, em particular a desigualdade e crise econômica, afirma o professor Ruy Braga, da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.
“A forma como a democracia está se reproduzindo nesses países, a forma como as decisões são tomadas nesse sistema estão ameaçadas tanto pelo avanço do nacionalismo quanto por formas ressignificadas de autoritarismo político”, afirma.
A grande preocupação a se pensar são os meandros internos ao sistema democrático, que podem levar a situações autoritárias. O professor toma como exemplo a Índia e a África do Sul, que passaram recentemente pelo processo eleitoral, mas apesar disso o quadro geral do futuro da democracia e das decisões a serem tomadas via representação democrática “parecem bastante sombrios”.
No caso indiano, recentemente o Partido do Povo Indiano (BJP, na sigla em inglês) obteve nas eleições uma maioria parlamentar e conseguiu formar uma coalizão muito vencedora e popular. No entanto, Ruy Braga aponta que devemos levar em consideração alguns aspectos, como o conteúdo da política que está sendo levado adiante pelo BJP, que no caso é fortemente nacionalista e com evidentes traços autoritários. Desse modo, a maioria religiosa da Índia, os hinduístas, estão efetivamente pressionando minorias étnicas e religiosas. Isso significa que, através das eleições democráticas, se produz um efeito antidemocrático. “A democracia não é apenas, pura e simplesmente, a imposição das vontades das maiorias, mas também, fundamentalmente, o respeito e resguardo aos direitos das minorias. Isso está claramente ameaçado”, complementa Braga.
O professor pontua que as recentes tentativas de se aprofundar o nacionalismo acabaram por gerar mais contradições do que propriamente resolver problemas. Ao tomar a China como exemplo, o país vem enfrentando, desde 2008, uma desaceleração no crescimento econômico que acabou por tensionar as relações políticas internas. O governo chinês tem tentado enfrentar essa situação com reforço do autoritarismo, como, por exemplo, a instalação de câmeras dentro das salas de aula para vigiar e criar um ambiente intimidador para a expressão de ideias.
Para aprofundar a discussão, a FFLCH está promovendo o seminário Podem democracias morrer democraticamente? – Novos autoritarismos no Sul global. Aberto ao público e gratuito, a programação do evento prossegue entre a terça e quarta-feira, dia 11 e 12 respectivamente, com a presença de convidados especiais.
Na terça-feira, às 18 horas, será discutida a conjuntura no Brasil, Índia e Filipinas, na sala 8 do Edifício de Filosofia e Ciências Sociais (Av. Luciano Gualberto, 315 – Cidade Universitária, São Paulo). Já na quarta-feira, no mesmo horário, o professor Boaventura de Sousa Santos, da Universidade de Coimbra, ministrará uma palestra respondendo à pergunta do título do evento e comentando como interpretar esse fenômeno, no Auditório Nicolau Sevcenko, no Edifício da Geografia e História (Av. Prof. Lineu Prestes, 338 – Cidade Universitária, São Paulo).
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