![Fotomontagem na qual se vê uma calculadora sobre cédulas de dólar](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/2018/11/20182611_comercio_exterior_dolar.jpg)
Em meio a um mundo contemporâneo influenciado por um intenso processo de globalização, a geopolítica e as relações internacionais são marcadas por diversos fatores e acordos, explícitos ou não, que entremeiam e definem as relações econômicas e políticas entre os territórios. Dentre estes, as tarifas alfandegárias enquadram-se como decisivos marcadores econômicos que regulamentam e estabelecem trocas e relações internacionais, atuando inclusive como estratégias políticas e de regulação econômica.
Tarifas alfandegárias, também conhecidas como tarifas de importação ou direitos aduaneiros, são tributos impostos à entrada e saída de bens importados e exportados de um país. Elas são regulamentadas de acordo com a legislação nacional interna, concentrando-se em torno de suas prioridades econômicas e políticas, enquanto decidida pelos respectivos governos de cada Estado e seus setores técnicos e econômicos, que as movimentam através de atos executivos ou pacotes.
![Homem branco, jovem, barba e bigode](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/2024/12/20241218_romeu-bonk-mesquita-300x300.png)
Segundo Romeu Bonk, pesquisador do Centro de Estudos das Negociações Internacionais (Caeni) da Universidade de São Paulo, as tarifas alfandegárias são técnicas protecionistas que visam a aumentar o preço do produto e reduzir o comércio internacional, enquanto favorecem o mercado nacional. “O efeito primário da tarifa é aumentar o preço do produto quando ele entra dentro do mercado e está importando aquele produto. Esse é o efeito da tarifa, ela aumenta o preço. Agora, a razão pela qual o governo obtém uma tarifa, ou uma série, um pacote de tarifas, pode variar muito de governo para governo, de época para época e de setor para setor”, explica.
Efeitos
As tarifas são instrumentos essencialmente protecionistas, ou seja, protegem a economia e os produtos nacionais daqueles que vêm de fora do país e, além do aumento do preço da mercadoria e da redução do comércio, as tarifas alfandegárias desempenham uma infinidade de benefícios e impactos à economia. São responsáveis por uma arrecadação da Receita Federal que contribui como fonte adicional à receita pública, custeando os gastos de transporte, manuseio e armazenamento de mercadorias, por exemplo.
Elas também funcionam como incentivo à indústria nacional, pois, assim como explicado por Bonk, ao taxar produtos estrangeiros o governo aumenta seu preço, incentivando um espaço competitivo que fará a população comprar produtos nacionais. “Então, se eu produzo no Brasil um bem, que eu só consigo vender a R$ 15, mas a China produz e consegue vender a R$ 10, nenhum consumidor vai comprar o meu produto, porque os agentes fazem uma escolha racional pelo menor preço. A partir do momento que importa aquela tarifa e que equipara o preço do produto importado com o produto nacional, o consumidor passa a ser indiferente entre comprar o meu produto e comprar o produto importado, e aí eu consigo competir.” Com isso, as tarifas regulam o comércio exterior, garantindo um maior controle sobre o volume e tipo de mercadoria que entra no país, evitando a dependência sobre os produtos internacionais, enquanto equilibra a balança comercial, garantindo que haja sempre mais exportações do que importações.
![Homem branco, com pronunciada calvice, usando óculos e vestindo paletó escuro sobre camisa azul bem clara](https://jornal.usp.br/wp-content/uploads/2021/12/20211208_feldmann-1-1-300x300.png)
Instrumentalização política
Além dos efeitos econômicos, as tarifas alfandegárias desempenham papéis essenciais como instrumentos geopolíticos nas relações comerciais entre chefes de Estado. Caracterizando-se como valores a serem encarecidos ou diminuídos, governos podem escolher sobre quais produtos e países impor taxas, dificultando sua entrada no país e essa decisão é, muitas vezes, influenciada pelo nível de cordialidade entre as nações. “A tarifa é um instrumento estratégico. Você pode aumentar tarifas com vistas a pressionar ou prejudicar determinada coalizão de países, você reduz a tarifa”, explica Bonk.
Vê-se tal situação, por exemplo, na maneira como o atual presidente eleito norte-americano, Donald Trump, ameaçou impor uma taxa alfandegária de 100% sobre os países do Brics, um grupo de países de economia emergente composto de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, caso substituíssem o dólar por uma nova moeda oficial. A ameaça foi uma estratégia política e, segundo Paulo Feldmann, professor de Economia do Departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração, Contabilidade e Atuária (FEA) da USP, denota o protecionismo norte-americano e representa o futuro entre os países. “O Donald Trump falou que a palavra mais linda do dicionário é taxação de produtos importados. Claro que ele estava brincando, mas ele deixou muito claro que essa vai ser a principal medida do governo dele (…)E é isso que vai acontecer daqui para a frente. Então, nós estamos em uma situação extremamente difícil no Brasil”, afirma o professor.
Já o contrário vê-se em situações como a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e com o Mercosul, organizações entre países cordiais que mantêm taxas alfandegárias mais baixas entre seus membros, facilitando e incentivando o comércio interno entre estes.
Brasil
Para a situação brasileira, o cenário econômico internacional por vezes mostra-se complexo e ameaçador. Isso porque, segundo o professor Bonk, a indústria brasileira desenvolveu-se em meio a um cenário desenvolvimentista, protegendo a indústria nacional para então entrar no cenário internacional competitivo; entretanto, a situação brasileira não ocorreu como o esperado. “O problema é que, no caso histórico brasileiro, só faltou cumprir a última parte. A indústria brasileira nunca se tornou competitiva. Porque o efeito colateral da proteção comercial é uma certa acomodação dos setores produtivos ”, afirma.
Além disso, segundo o professor Feldmann, a indústria brasileira terminou por manter-se unicamente agrícola, o que a impossibilitou de tornar-se independente e autossuficiente no mercado internacional. “Hoje o Brasil virou um paraíso de produtos importados e a gente já não sabe fabricar mais nada. Agora, inclusive, tenta importar, porque não sabemos mais como fabricar celular, computador, carro, produto eletrônico, nada. Tudo é importado. A única coisa que a gente exporta são commodities e produtos agrícolas. Viramos um grande país agrícola novamente.”
*Sob supervisão de Paulo Capuzzo e Cinderela Caldeira
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