Retomada do crescimento econômico brasileiro depende também da política

Na opinião de Simão Silber, País tropeçou nas últimas décadas, mas pode retomar o crescimento com investimento externo e segurança jurídica

 27/05/2021 - Publicado há 3 anos
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Com o encarecimento do petróleo, o governo Geisel contraiu uma dívida externa próxima de US$ 100 bilhões – Foto: Daniel Isaia/Agência Brasil

 

Nos últimos 40 anos a economia brasileira teve baixo desempenho. O País vinha em desenvolvimento até a década de 1980, mas desde então o crescimento passou a ser muito menor. O professor Simão Silber, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) e pesquisador da Fipe (Fundação de Pesquisas Econômicas) da USP, faz um apanhado histórico da economia brasileira e da virada na década de 1980.

“É nesse período que o Brasil faz uma ruptura com o mercado internacional”, afirma em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição. “Os erros a partir dos anos 1980 foram desenvolvidos anteriormente no governo militar”, completa. Com o encarecimento do petróleo, o governo Geisel contraiu uma dívida externa próxima de US$ 100 bilhões.

Na tentativa de reduzir a inflação nos EUA, o Banco Central norte-americano elevou a taxa de juros para quase 20% ao ano. “Esse número é astronômico e torna impagável quem fez dívida em dólar”, afirma Silber. Nesse contexto, o Brasil declara duas moratórias, ou seja, o adiamento do prazo para pagar uma dívida, e corta importações. “O Brasil fica totalmente fora do mercado mundial”, diz. “A gente continua, até os dias de hoje, muito isolados do mundo”, acrescenta.

O País entra em um cenário de transição política e aumento da inflação, que só foi controlada com o Plano Real do governo de Fernando Henrique Cardoso. “Com esse plano, acaba a inflação, mas o crescimento não volta”, comenta o professor. “E aí nós vamos de cambalhota em cambalhota”, diz Silber, ao analisar o andamento da economia após os anos 2000, com o atentado das torres gêmeas, a fuga de capital, a crise de 2008 e agora a covid-19. Para ele, o abandono do Tratado de Paris e da política de boa vizinhança, com a hostilização da China por parte do governo Bolsonaro, também contribuem com o isolamento econômico do Brasil.

Na opinião de Silber, a retomada do desenvolvimento e do espaço brasileiro na economia mundial passa não só por aspectos econômicos, mas também políticos. “Tudo isso depende de uma discussão entre Executivo, Legislativo e Judiciário, se isso não ocorrer a gente não avança.” O professor defende um programa de concessões e privatizações para atrair o investimento privado, mas é necessário garantir a segurança contratual para esses investidores, o que não deve ocorrer no governo atual. “O Brasil tem tudo, tudo mesmo, para ser um país rico.”


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