Redes criminosas impulsionam desmatamento na Amazônia

Bruno Paes Manso diz que a fragilização do Estado, somada a pouca fiscalização, contribui para a consolidação do negócio criminoso na região

 26/09/2019 - Publicado há 5 anos     Atualizado: 30/09/2019 às 10:57
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Relatório da ONG Human Rights Watch (HRW) divulgado recentemente denuncia a ação de redes criminosas que impulsionam o desmatamento e as queimadas na Amazônia, com a participação de invasores de terra e fazendeiros que contam com a proteção de milícias armadas. O Jornal da USP no Ar conversou com o pesquisador Bruno Paes Manso, do Núcleo de Estudos da Violência (NEV) da USP, que traz um panorama sobre a violência na região.

Sob o título de Máfias do Ipê: como a violência e a impunidade alimentam o desmatamento na Amazônia brasileira, o relatório da ONG estabelece ligações entre o desmatamento ilegal e os incêndios florestais com atos de violência e intimidação contra os chamados defensores da floresta, que incluem ativistas, agricultores, comunidades indígenas e até policiais e agentes públicos. Segundo a Human Rights Watch, a impunidade e a falta de fiscalização se agravaram durante o governo Bolsonaro.

Para Paes Manso, o documento traz  novas e importantes informações  para a compreensão do modelo de negócio criminal que opera na região. “Tradicionalmente, a região amazônica tem problemas com pistolagem  e conflitos de terra. Essa é uma problemática que existe há algumas décadas no interior do Brasil”, explica o pesquisador, e avança: “Mas os modelos de negócios estão se transformando”.

A fragilização do Estado, somado a pouca fiscalização, justifica o avanço do negócio do crime. Paes Manso expõe que o negócio de extração de Ipê é altamente rentável, “um troco pode alcança valores entre R$ 2 mil e R$ 6 mil”. Essa combinação de pouca fiscalização, Estado fragilizado e rentabilidade nos negócios favorece a consolidação do crime. “(Isso) proporciona modelos de negócios que, muitas vezes, estão ligados, inclusive a agentes do Estado”, denuncia o pesquisador, e acrescenta: “Que passam a utilizar ameaças de morte, ou até mesmo a própria farda, como vantagem comparativa no mercado criminal”.

Além da fragilização do Estado e da pouca fiscalização – o estado do Pará, por exemplo, conta com apenas oito fiscais e sua extensão equivale a países europeus – há, também, por parte de políticos que assumiram o comando do País, uma postura que agrava a situação. “Há discursos de tolerância e até inventivo desse tipo de ação criminosa”, comenta o pesquisador.

Por fim, Paes Manso esclarece que a política de segurança pública deve focar em coibir crimes violentos, além de mirar na estrutura financeira e na cadeia de negócios. O modelo de negócios criminal atual deve ser combatido com operações de inteligência.


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