Problemas estruturais afastam turistas do Brasil

Entre os principais motivos da falta de visitantes no Brasil está a distância em relação aos principais países emissores de turistas

 15/06/2023 - Publicado há 1 ano
Em 2018, apenas 6,6 milhões de pessoas visitaram o País – Foto: Pixabay

 

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Por Ferraz Jr e Susanna Nazar

Em relação a outros países do mundo, o Brasil fica a desejar quando se trata do turismo. Em 2018, por exemplo, apenas 6,6 milhões de pessoas visitaram o País. Apesar de parecer um número alto, se compararmos com países da Europa, como a Espanha e a França que, no mesmo ano, receberam 83 e 89 milhões de visitantes, respectivamente, fica nítida a discrepância.

Também segundo dados de 2018 do Ministério de Bens e Atividades Culturais da Itália, apenas um monumento, o Coliseu, em Roma, recebeu 7,6 milhões de turistas, mais do que todo o Brasil. Outro exemplo vem do México, país com mais semelhanças com o Brasil, por ser latino-americano e em desenvolvimento, mas que recebeu 44,3 milhões de visitantes.

Ao se analisar os problemas do baixo fluxo de turistas estrangeiros no Brasil, um ponto parece unânime: a distância do País em relação às principais nações emissoras de turistas. Segundo a professora Mariana Aldrigui Carvalho, do curso de Lazer e Turismo da Escola de Artes, Ciências e Humanidades (EACH) da USP, o Brasil atrai um número de estrangeiros considerado ainda baixo perto de sua capacidade, mas não em função do contexto regional e global.

Mariana Aldrigui Carvalho – Foto: Emerson de Souza

“Temos uma distância geográfica grande entre os principais países emissores, o que faz com que a viagem seja cara e exista uma barreira linguística, especialmente para pessoas que só falam inglês. No caso dos países vizinhos, temos que lembrar que a língua também é uma barreira e que, em várias situações, o Brasil também é bastante caro se comparado com a possibilidade de viagens entre outros vizinhos”, coloca a especialista. 

Para Mariana, o grande desafio atual é conseguir identificar quem são os turistas que poderiam ser atraídos para os novos produtos que o Brasil tem a oferecer. “Não é uma conta simples e não se trata de uma equivalência direta e simplista com países como a Espanha, a França, a Itália e o México, por exemplo.” 

Outros problemas

Além do fator distância, o professor Glauber Eduardo de Oliveira Santos, também da EACH da USP, especialista em Economia do Turismo, cita problemáticas internas do País que prejudicam o turismo brasileiro. Questões aeroportuárias, baixa qualidade de alguns serviços turísticos e a segurança são problemas destacados por ele. 

“O mercado de transporte aéreo regional no Brasil é pouco desenvolvido, existe pouca oferta de voos regionais, muitas vezes, nesses destinos, existe uma escassez de infraestrutura aeroportuária e, como o Brasil é um país continental, esse transporte das capitais, que é por onde chegam os turistas internacionais, até os pequenos destinos fica muito dificultado”, elenca o especialista.

Glauber Eduardo de Oliveira Santos – Foto: Arquivo Pessoal

Além disso, apesar de o Brasil apresentar uma boa oferta de hospedagem, alimentação, transporte, os serviços pecam sobretudo no receptivo e no que está associado aos atrativos turísticos. “Faltam guias de turismo especializados, prestadores de serviços que dominem o idioma inglês, oferta de passeios, de pacotes regulares que possam levar os turistas para conhecer os atrativos naturais e culturais na prática”, descreve. 

O fator segurança, como apontado pelo especialista, envolve muito mais do que os problemas de segurança pública em geral do País. De acordo com ele, há a vulnerabilidade do turista em relação a pequenos golpes, preços exorbitantes, prestações de serviços em desacordo. “De maneira geral, há uma desarticulação da cadeia produtiva do turismo que, no final das contas, é prejudicada como um todo quando algum dos seus agentes tira proveito”, alega. 

Medidas necessárias

Diminuir essa diferença e transformar o País em um destino atrativo para turistas, num setor altamente competitivo, requer uma série de medidas em diversas áreas, que vão da infraestrutura à qualificação profissional. Mesmo não sendo uma tarefa fácil, ainda segundo Santos, é necessário entender que o turismo é uma atividade econômica e que a geração de renda, empregos, impostos, certamente constitui o principal impacto positivo. “A experiência do turista não é composta apenas de um hotel, um atrativo ou um restaurante, mas, sim, por uma série de elementos que se combinam e que em conjunto devem oferecer uma experiência de qualidade”, afirma. 

No entanto, o especialista deixa claro que não se pode esperar a resolução completa do mercado. Também é necessário que o governo atue na articulação da oferta. “O governo tem um papel fundamental no provimento de serviços e infraestrutura de livre acesso, como rodovias, segurança pública, limpeza pública, além de informações turísticas.” 

Vistos de turistas

As medidas de isenção de vistos foram outra questão citada pelo professor. O Brasil passou a exigir o visto para turistas dos Estados Unidos, Canadá, Japão e Austrália. Santos afirma que essa é uma medida que vai contra a competitividade do turismo, já que vários países têm reduzido essa exigência justamente com a intenção de se tornarem mais competitivos no mercado internacional. 

Daniela Carneiro – Foto: Ricardo Stuckert/PR – Wikimedia Commons

Por esse lado, a ministra do Turismo, Daniela Carneiro, afirma que o Ministério do Turismo e o Ministério das Relações Exteriores têm trabalhado medidas para facilitar a emissão de vistos, como o visto eletrônico, que poderá ser obtido no prazo de 24 horas de forma on-line e sem necessidade de deslocamento das pessoas  aos consulados. “Isso contribuirá para atrairmos mais turistas estrangeiros ao Brasil”, pontua.

Por fim, a professora Mariana ressalta que não se trata de  copiar modelos internacionais, porque as dinâmicas do Brasil são dinâmicas muito particulares. “O brasileiro viajando tem um comportamento muito específico e o estrangeiro viajando no Brasil também tem um comportamento muito específico. Portanto, não se trata de copiar políticas, mas de avançá-las e adaptá-las à nossa realidade.”


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