Primeiro ano de cadastro positivo tem queda na oferta de crédito

Setor inclui pessoas que não possuem contas em bancos em cadastro de bons pagadores e espera fim da pandemia para reativar negócios

 29/09/2020 - Publicado há 4 anos     Atualizado: 30/09/2020 as 11:48
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Foto: Andrezza Mariot/Flickr

O cadastro positivo completa um ano de sua implementação, com a inclusão de grande parcela dos brasileiros em seu banco de dados, mas sem ter conseguido atingir seu principal objetivo, o de fornecer crédito mais barato para clientes considerados bons pagadores. Ainda com banco de dados em formação, o cadastro positivo sentiu o impacto da pandemia, que retraiu a oferta de crédito. A expectativa é de que a normalização da atividade econômica faça crescer a demanda por crédito.

As informações que alimentam o banco de dados são obtidas no que os especialistas chamam de ondas. São cinco ondas. A primeira delas foi composta de dados fornecidos pelas instituições financeiras. A segunda onda, pelo setor de telecomunicações. As duas juntas somam 100 milhões de cadastros de pessoas físicas e jurídicas.

O setor de energia elétrica, que compreende as concessionárias estatais e privadas de distribuição de energia, compõe a terceira onda e passou a fazer parte do cadastro positivo em agosto. A quarta onda são as informações do varejo e a quinta e última onda, as companhias de saneamento e gás.

Uma das virtudes do cadastro positivo é a inclusão de trabalhadores informais e cidadãos desbancarizados, aqueles que não têm conta em bancos, nem mesmo a popular poupança. A inclusão da terceira onda permitiu que 23 milhões de brasileiros sem acesso ao crédito por falta de informações cadastrais suficientes pudessem obter empréstimos como bons pagadores, mesmo aqueles que só entram numa agência bancária para pagar a conta de luz. Segundo os birôs de crédito, esse volume de brasileiros representa 25% da população desbancarizada que foi já assimilada pelo cadastro positivo.

Um dos principais objetivos do cadastro positivo é baratear o crédito para quem é bom pagador. Mas isso ainda não acontece, como explica o professor Edgard Monforte Merlo, da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP. Para o professor, as informações sobre os clientes que solicitam crédito vão trafegar com mais facilidade e agilidade, o que, em tese, barateia o custo do crédito. Mas o crédito mais barato ainda não chegou ao cliente. Para que isso aconteça, Merlo aponta duas ações necessárias. “É preciso aumentar a competição do setor e, consequentemente, reduzir o custo das operações de crédito,” afirma.

Como em praticamente todos os setores da economia, a pandemia também interferiu na oferta de crédito, retraindo a demanda. O presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Ribeirão Preto, Paulo Cesar Garcia Lopes, diz que “estamos vivenciando algo jamais visto na história do País. A instabilidade econômica provocada pela pandemia trouxe consequências diretas para o mercado de crédito, que retraiu as ofertas”. Ele acredita que a volta da estabilidade na oferta de créditos vai fazer com que o valor gerado pelas novas informações do cadastro positivo seja sentido pelo mercado e pela sociedade.

Ouça no player acima as entrevistas de Edgard Monforte Merlo e Paulo César Garcia Lopes.


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