População de origem asiática é vítima de violência e preconceito na pandemia

Para Lais Miwa Higa, discurso de ódio adotado por lideranças globais e falta de identificação racial estão entre os motivos por trás do aumento do preconceito

 27/05/2021 - Publicado há 3 anos     Atualizado: 26/07/2024 às 9:36
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Asiáticos Foto: ที่มา: www.pixabay.com – via flick

A violência e o preconceito contra a população de origem asiática foram acentuados durante a pandemia de covid-19. Segundo relatório divulgado em maio pelo Stop Asian Hate, movimento que denuncia o aumento dos crimes de ódio contra a comunidade, foram 6.603 casos de violência registrados entre março de 2020 e março de 2021. De acordo com o Departamento de Polícia de Nova York, houve aumento de 1.900% nesses incidentes, além das denúncias que não são relatadas.

O discurso de ódio e preconceito adotado por lideranças globais é apontado como um dos motivos por trás desse aumento. Políticos como o ex-presidente dos EUA, Donald Trump, e Jair Bolsonaro utilizaram “vírus chinês” para se referir à covid-19 em diversos momentos e atribuem a culpa da pandemia ao país asiático. “Isso escancarou um racismo que vem desde o início da imigração, esse tipo de discurso abre espaço para a agressão”, comenta Lais Miwa Higa, doutoranda em Antropologia Social na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

Segundo Lais, é comum que em tempos de crise haja um aumento de crimes de ódio contra minorias. “Cria-se um inimigo comum e as pessoas acabam jogando esse ódio nos indivíduos”, explica. Isso aconteceu, por exemplo, durante o Estado Novo, quando Getúlio Vargas adotou uma postura contra os japoneses por conta dos conflitos da Segunda Guerra Mundial. E acontece agora, na pandemia.

estereótipo que generaliza diferentes etnias

Atualmente, esses discursos têm como principal alvo a China, onde o coronavírus foi identificado pela primeira vez, mas a violência atinge toda a população de origem asiática. “As pessoas, em geral, não sabem diferenciar, olhando no rosto da pessoa, se ela é chinesa ou coreana”, afirma Lais. “Acabam todos sendo vítimas desse preconceito”, acrescenta. A pesquisadora ainda comenta que há um estereótipo que generaliza diferentes etnias, como se japoneses e chineses, por exemplo, fossem iguais.

A questão de gênero também tem relação com o racismo. Ainda segundo o levantamento do Stop Asian Hate, cerca de 65% dos casos de violência têm como vítimas as mulheres.

Em seu doutorado, Lais estuda a militância e a identidade asiática. Para a pesquisadora, a percepção de amarelo como raça no Brasil não existe. “As próprias pessoas asiáticas não se viam como amarelas, muitas vezes se entendiam como quase brancas ou até brancas mesmo”, afirma. Ela defende que esse reconhecimento é importante para que o racismo seja nomeado e identificado.

superar o preconceito

“Nos últimos tempos, teve todo um cuidado de entender o que é raça no Brasil”, comenta Lais. Segundo a pesquisadora, há um movimento entre os coletivos asiáticos de não se fechar somente entre a comunidade asiática e enfatizar a solidariedade antirracista com outros movimentos. “Essa discussão, estando nas redes, permite que se tire da invisibilidade esse tipo de discriminação que tem raízes históricas, mais de 100 anos no Brasil, por exemplo.”

 “É difícil falar que é racismo quando as pessoas ainda não nos percebem como racializadas”, diz. O termo “xenofobia” é frequentemente utilizado, mas, segundo a pesquisadora, não é o mais adequado, já que as vítimas não são somente estrangeiros, mas também brasileiros e brasileiras.

Entre as formas de superar o preconceito, Lais cita o debate e a informação para que essa violência seja nomeada e identificada, pois muita gente ainda entende isso como piada. “O combate contra qualquer tipo de discriminação é educação, pesquisa e diálogo. Salva vidas”, conclui.


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