Há cerca de uma semana, veio a público a política de Donald Trump, que separou pais e filhos imigrantes. Por volta de 2 mil crianças e adolescentes foram separados de 1.940 adultos, que os acompanhavam no cruzamento da fronteira norte-americana entre os dias 19 de abril e 31 de maio. No entanto, no dia 20 de junho, Trump assinou uma ordem executiva para evitar a separação desses menores, assim, em caso de ilegalidade, a família inteira será deportada. Um dia depois, o presidente disse que ordenou às agências do governo americano reunir as famílias. Para falar mais sobre essa política adotada por Trump, o Jornal da USP no Ar conversou com a professora Maria Luiza Tucci Carneiro, do Departamento de História da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da (FFLCH) USP, e coordenadora do Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação (LEER) do mesmo departamento.
A professora ressalta a importância da mídia em divulgar e fazer uma cobertura detalhada sobre esse tratamento que imigrantes vêm recebendo nos Estados Unidos. A partir da participação da imprensa em relatar esses casos, houve uma grande pressão sobre o governo norte-americano, o que fez com que Trump voltasse atrás.
Maria Luiza menciona que a Declaração Universal dos Direitos da Criança, adotada pela Assembleia das Nações Unidas em 20 de novembro de 1959 e ratificada pelo Brasil, não foi respeitada, principalmente quando o assunto é liberdade, o que, para ela é contraditório para esse país, que tem um histórico de luta a favor da liberdade. Por tal razão, a professora afirma que, antes de pensar em razões políticas, é importante pensar na humanidade. “A questão aqui não é de um jogo político, é de vida”, desabafa.
A respeito de possíveis impactos às vítimas dessa política, Maria Luiza cita exemplos do passado, de crianças que foram perseguidas na Alemanha nazista e que se traumatizaram. Esse trauma foi levado para o resto de suas vidas, o que pode ocorrer também com esse caso em que crianças estão sendo separadas nos EUA.
No contexto brasileiro, a professora afirma que, desde o início do século 20, o Brasil é um país racista. Segundo ela, o governo Vargas era antissemita e negou o pedido de receber crianças que tinham sido presas na França.
A professora Maria Luiza é idealizadora e faz parte da coordenação geral do Núcleo de Estudos Arqshoah, que reuniu histórias de sobreviventes do Holocausto e de outras guerras pelo mundo. São relatos de traumas adquiridos quando criança e reflexões a respeito das consequências de governos autoritários e totalitários.
Jornal da USP no Ar, uma parceria do Instituto de Estudos Avançados, Faculdade de Medicina e Rádio USP, busca aprofundar temas nacionais e internacionais de maior repercussão e é veiculado de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 9h30, com apresentação de Roxane Ré.
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