Pesquisas visando a gestão dos rejeitos de mineração vem sendo desenvolvidas na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq) da USP para determinar os possíveis riscos associados aos materiais e traçar estratégias de remediação e reaproveitamento. De acordo com Amanda Duim Ferreira, doutora em Ciências com ênfase em Solos e Nutrição de Planta da Esalq, o Grupo de Pesquisa em Geoquímica do Solo, coordenado pelo professor Tiago Osório Ferreira, tem desempenhado um papel fundamental no estudo dos impactos ambientais causados pelo desastre de Mariana.
Ela explica que um dos primeiros resultados significativos do grupo foi a identificação dos componentes do rejeito liberado após o rompimento da barragem, composto principalmente de óxidos de ferro. Esses óxidos, que são estáveis em ambientes não alagados como solos de terras altas, representam um risco potencial quando depositados em estuários, onde podem ser reduzidos e liberar metais associados, como ferro, manganês, cromo, níquel, cobre e chumbo.
Conforme a pesquisadora, a presença desses óxidos de ferro nos solos alagados do estuário pode alterar significativamente a geoquímica local. Ela conta que, em condições de ausência de oxigênio, típicas de solos alagados, os óxidos de ferro podem se dissolver mais facilmente, aumentando a disponibilidade desses metais na água e no solo circundante ao longo do tempo.
Estratégias
Além de identificar os riscos ambientais, o grupo também se dedica a avaliar estratégias de remediação. Um dos principais focos foi a aplicação de técnicas de biorremediação, utilizando plantas nativas da região do rio Doce. Essas plantas demonstraram um potencial considerável para a fitoextração de metais pesados, especialmente ferro, manganês, cromo e níquel, acumulando-os em sua biomassa e retirando-os do solo contaminado.
Outro aspecto crucial da pesquisa é a análise dos fatores sazonais e climáticos que afetam a liberação desses metais no solo. A equipe descobriu que quase metade da disponibilidade desses metais está diretamente relacionada aos padrões climáticos, como precipitação e temperatura. Aumentos na precipitação, por exemplo, podem resultar em picos significativos na liberação de metais no estuário, o que representa um risco contínuo para a saúde pública e o meio ambiente.
“Além de analisar os perigos imediatos, os resultados também nos permitem trabalhar da fitorremediação para a agromineração na recuperação dessas áreas. Então estamos trabalhando com plantas que hiperacumulam metais. Nesse sentido, usando uma mistura de fertilizantes orgânicos e inorgânicos com essas plantas, elas trabalham para a gente no sentido de ajudar a extrair os rejeitos desses locais”, explica.
Mais informações: e-mails amandaduim@usp.br e toferreira@usp.br
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