Acompanhe a entrevista do professor Antonio Clóvis Pinto Ferraz ao repórter Fabio Rubira:
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A limitação da velocidade máxima nas Marginais dos rios Tietê e Pinheiros, em São Paulo, em até 70 km por hora, ou o retorno à máxima de até 90 km por hora, divide opiniões e tem chegado a pautar o debate político na Capital após o encerramento da disputa à Prefeitura. O professor do Departamento de Transportes da Escola de Engenharia da USP de São Carlos, Antonio Clóvis Pinto Ferraz, não tem dúvidas em afirmar que velocidades menores no trânsito são mais seguras, como bem demonstram dados obtidos em diferentes países e transcritos no livro Segurança Viária, publicado em 2012, do qual ele é um dos autores. A obra aborda, de forma sintética e prática, fatores associados aos acidentes, dados sobre a qualificação e quantificação da acidentalidade, técnicas de avaliação de tráfego, psicologia e educação para o trânsito, entre outros assuntos da área.
Os dados mostram que, quando a velocidade cai de 90 km para 70 km por hora, os acidentes com vítimas fatais devem ser reduzidos em 43%, em média, enquanto os acidentes com vítimas leves, 23%. No caso da diminuição de velocidade de 70 km para 60 km – caso da pista central das Marginais – e de 60 km para 50 km (pista local), aqueles índices passam a ser de 23% e de 9%, respectivamente. Nas Marginais, de acordo com dados publicados nos jornais, houve redução de 52% no número de acidentes com vítimas fatais. Para o professor Pinto Ferraz, isso mostra o acerto da medida, que, em sua opinião, deve ser mantida.
Ele também observa que a fluidez do trânsito também melhora,como resultado da equação segundo a qual, no caso das Marginais do Tietê e Pinheiros, velocidades menores estão mais de acordo com as diferentes seções da via em sua capacidade de receber veículos. Não se pode esquecer ainda que “o objetivo principal de uma política adequada de trânsito é reduzir acidentes, a segurança vem em primeiro lugar”. O especialista diz que há uma tendência mundial de reduzir velocidade não somente em vias urbanas como também em rodovias.
“Essa discussão jamais existiria em um país desenvolvido. Nenhum político de um país desenvolvido estaria colocando isso em pauta em seu projeto de governo, pois isso é uma questão eminentemente técnica”, raciocina ele. “É uma situação surrealista um prefeito dizer que vai alterar a velocidade sem consultar a opinião dos meios técnicos.” Em relação à grita geral, de que há um excesso de multas, ele entende que não se pode misturar as coisas. “Se está havendo excesso de multa, isso precisa ser verificado e corrigido.” O professor da USP em São Carlos observa, porém, que onde se tem maior fiscalização do trânsito, se obtém, igualmente, uma redução no número de acidentes. Ou seja, há uma relação direta entre o maior número de multas por veículo e o menor número de mortes por veículo. “É preciso fiscalizar”, afirma, “mas os excessos precisam ser corrigidos.”
O engenheiro entende que não há segredos: redução de velocidade, fiscalização e engenharia de trânsito adequada, além de investimento em educação, são fatores primordiais para a manutenção da segurança nas vias urbanas ou em rodovias.