O mundo se une novamente contra o mosquito Aedes aegypti. E dessa vez a preocupação maior é com as gestantes expostas ao Zika vírus. No rastro da epidemia que já conta quase 1.300 casos de microcefalia diagnosticados somente no Brasil, a OMS acaba de publicar um guia com orientações para o manejo clínico de gestantes infectadas e também para a prevenção da doença.
Pregnancy Management in the Context of Zika Virus Infection é de livre acesso e está disponível no site da OMS. Mas, o professor Fernando Bellíssimo Rodrigues, do Departamento de Medicina Social da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, lembra que este não é um guia para a população leiga; é “um documento técnico”, com informações detalhadas para os profissionais que trabalham com a doença.
Como a epidemia por Zika atingiu escala global, conta o especialista da FMRP, a OMS está tentando padronizar condutas de saúde para as melhores práticas possíveis no controle da doença, enfocando a gravidez. Por isso a preocupação com as orientações clínicas quanto às gestantes e às medidas preventivas nos mais diversos países afetados.
E a preocupação não é sem tempo, já que apesar da grande variedade de estudos acontecendo atualmente, “não temos ainda números concretos da verdadeira incidência da doença. Sabemos que está se espalhando pelas regiões tropicais e subtropicais do globo, mas não temos a real incidência na gestação”, alerta Bellíssimo.
O controle da procriação do mosquito é ainda considerado a medida mais importante para a proteção não só contra Zika, mas dengue, chikungunya e febre amarela. Porém, essas “são medidas de difícil implementação, pois demandam comportamento humano, políticas de controle do lixo e manejo adequado de saneamento”.
E a mulher grávida, continua Bellíssimo, não pode ficar vulnerável a decisões que não dependam dela. Assim, “trabalhamos com a necessidade de estabelecer medidas individuais que as mulheres grávidas devem usar para se proteger do Zika e, por conseguinte, proteger seus bebês”. No documento da OMS, a equipe da Medicina Social da FMRP, lideradas pelos professores Bellíssimo e João Paulo de Souza, colaborou principalmente no levantamento de informações quanto ao uso de repelentes, telas mosquiteiras e equipamentos “chamados de uso individual” para proteção das gestantes.
Lixo urbano e política desastrosa
A diretora geral da OMS, Margaret Chan, declarou, na abertura da Assembleia Mundial de Saúde realizada em Genebra-Suíça, segunda-feira, dia 23 de maio, que “a propagação da zika, o retorno da dengue e a ameaça emergente da chikungunya são resultados da desastrosa política de saúde pública dos anos de 1970 que levou ao abandono do controle de mosquitos”.
O Brasil, por exemplo, já foi considerado livre do mosquito por ter atendido ao programa de erradicação da OMS, em 1958. Durante a primeira metade do século passado, a principal doença transmitida pelo Aedes aegypti não era a dengue, mas a febre amarela. Na década de 1970, no entanto, as autoridades em todo o mundo substituíram a “erradicação” pelo “controle” do mosquito.
Do final da década de 1970 até hoje, o Aedes vem ganhando terreno na luta em nosso país, anexando outras doenças como a dengue e agora a Zika e a chikungunya.
Para Bellíssimo, assim como a diretora da OMS, o problema é de políticas públicas e controle sanitário. O Brasil, diz o especialista da USP, “está em condição desfavorável por conta do manejo inadequado do lixo urbano”.
O professor defende que o poder público e a população devam se aliar para dar destinação adequado ao lixo; pois, ao contrário do que se pensa, “a maior parte dos criadouros do mosquito não está nas residências e sim ao redor delas”. Bellíssimo diz que se assim fosse, a incidência dessas doenças não diminuiria no inverno.
“O vaso dentro de caso recebe água o ano inteiro, já o volume de chuvas cai no inverno. Os depósitos irregulares de lixo urbano são os grandes criadouros do Aedes”. O professor afirma que enquanto caçambas com resíduos da construção civil ficar ao relento e as vias públicas e terrenos baldios receber descartes de sofás, geladeiras e automóveis será praticamente impossível o controle efetivo dessas doenças.
Mais informações: fbellissimo@fmrp.usp.br
Rita Stella / Serviço de Comunicação do Campus da USP em Ribeirão Preto