O retorno do futebol e os impactos da pandemia sobre a modalidade

Gonzalo Vecina Neto comenta a volta do futebol do ponto de vista epidemiológico e Amaury José Rezende analisa a necessidade econômico-financeira dos clubes

 07/08/2020 - Publicado há 4 anos     Atualizado: 10/08/2020 às 16:17
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Em meio às discussões sobre as condições epidemiológicas e a necessidade econômico-financeira do retorno do futebol em São Paulo, os clubes e a Federação Paulista de Futebol instituíram protocolos e aprovaram a volta no Estado. No entanto, mesmo com bola voltando a rolar — de acordo com Amaury José Rezende, professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da USP  — “o encanto do futebol não foi retomado”. 

“As pessoas estão em casa sem entretenimento, e o brasileiro gosta de assistir futebol, mas eu acho que foi precipitado [o retorno]. Também entendo que a indústria do futebol está cada dia mais profissionalizada e precisa sobreviver”, analisa Rezende.

Para garantir um retorno seguro, a Federação se baseou em protocolos internacionais e instituiu regras rígidas de controle epidemiológico. Os estádios em que as partidas estão sendo realizadas foram divididos por zonas, cada uma com um número máximo de pessoas permitidas e exigências específicas designadas. Além disso, todos os que estiverem envolvidos em uma partida devem ser testados antes do confronto e o uso de máscara é obrigatório — exceto para os atletas durante o jogo. O professor Gonzalo Vecina Neto, da Faculdade de Saúde Pública da USP, comenta que, “como médico”, diria não ao retorno, e acredita que “se forem cumpridos os protocolos, está na hora de retornar”.

 

Apesar do retorno do futebol, as arquibancadas permanecem vazias – Foto: J. de Vargas via Flickr – CC

Apesar da retomada da modalidade, ainda está vetado o comparecimento de torcedores no estádio. Em meados de junho, o governo do Rio de Janeiro chegou a programar a volta do espectadores, no entanto, após pressão de diversos setores da sociedade, voltou atrás. O professor Vecina Neto classifica a possibilidade de retorno do público como “uma loucura”. Outra discussão está no cenário em que os torcedores poderiam, após a retomada, procurar bares, restaurantes e outros locais que promovem convívio social para acompanhar as partidas. Para evitar tal circunstância, Vecina Neto aponta que deve haver bom senso da população e intervenção do Estado.

Em todo o Brasil, uma das principais razões do retorno é a necessidade econômico-financeira dos clubes. Enquanto o futebol esteve parado, grande parte das receitas se deterioraram e as equipes, grandes e pequenas, passaram a enfrentar dificuldades com as contas. Amaury José Rezende utiliza a queda registrada no faturamento do Flamengo, clube que mais arrecada no País, como exemplo: “No primeiro trimestre já foi possível perceber quedas na arrecadação de mídias digitas, serviços on demand e bilheteria, isso só em um pedaço da pandemia”. Os registros do segundo trimestre devem trazer um retrato verdadeiro dos impactos da pandemia no futebol brasileiro. O faturamento por meio de bilheteria e de sócio-torcedor deve apresentar grande queda.

O retorno do futebol não resolve completamente os problemas de faturamento. Sem público, os valores antes recebidos com bilheteria e sócio-torcedor não serão recuperados. Por outro lado, outras fontes importantes como as cotas de transmissão da TV e o patrocínio concedem um respiro aos clubes. Um leve respiro, isso porque, apesar da instabilidade no faturamento, um aspecto permanece estável, as contas e os compromissos com os quais os clubes devem arcar.

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