Por precauções sanitárias, a chegada da pandemia impediu a realização de aulas em classes presenciais, causando o afastamento de crianças e jovens do ambiente escolar. Os impactos dessa nova configuração foram diversos. Muitos deles, porém, nada mais são do que o agravamento de problemas já existentes. É o que aponta o professor Nilson José Machado da Faculdade de Educação da USP.
Em entrevista ao programa Jornal da USP no Ar 1ª Edição, o professor analisa que o nível de ensino menos afetado pela transição à educação remota foi o da alfabetização. Para ele, o maior obstáculo está sendo o suporte às famílias das crianças, já que a escola não pode ser mais usada da mesma forma: “Problemas de alimentação, problemas de a família não estar bem estruturada para atender já existiam e foram amplificados. E eu não vejo problema muito especial com a alfabetização, acho que o governo faria bem em se preocupar menos com a miudeza dos processos de avaliação e mais com a condição de trabalho do professor e a condição de vida dessas famílias. Têm crianças em fase de alfabetização que estão sofrendo com isso e já estavam antes da pandemia”.
O objetivo desse processo deve ser o incremento da relação entre família e escola. O professor Machado argumenta, lembrando da pedagogia da alternância, na década de 1930, quando a educação era pensada para que as crianças pudessem também ajudar seus pais no trabalho de agricultura. “Hoje, o contexto é totalmente outro e ajudar no mundo do trabalho não faria o menor sentido, mas está voltando a ser posta em discussão a ideia de uma ‘pedagogia da alternância’, no sentido de dividir mais nitidamente a participação da família e da escola.”
Para isso, seria importante garantir a condição e a estrutura das famílias dos estudantes brasileiros. Sem atribuir tanta importância a projeções de prejuízo no ensino brasileiro pela pandemia, o professor enxerga que o esforço e solidariedade que aparecem na pandemia, mesmo junto às tragédias, podem também ser refletidos no sistema educacional: “Sou totalmente favorável à educação integral, mas não entendida como a educação em tempo integral, mas no sentido de sentimento, família, escola e atividades integradoras, isso sim. A educação integral contra a fragmentação disciplinar que a gente vive hoje na escola”.
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