
Caruru, corda-de-viola, capim-pé-de-galinha, erva quente, azevém… Esses nomes remetem a alguma coisa que não seja comida? Não? Pois está certo. São os nomes de ervas daninhas. Plantações, pastagens, jardins. Nada escapa de sua ação. Desde crianças ouvimos falar que as ervas daninhas são uma praga que destrói todo lugar por onde passam. Rafael Pedroso, professor do Departamento de Produção Vegetal da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, a USP de Piracicaba, explica que as plantas daninhas não são caracterizadas por distinções botânicas ou características morfológicas, mas sim por crescerem em locais indesejados e interferirem com as atividades humanas de alguma forma, seja em lavouras agrícolas ou represas, onde atrapalham a geração de energia, ou em terrenos baldios nas cidades e pastagens. Muitas vezes o ser humano é o principal agente disseminador desse tipo de planta, transportando consigo sementes contaminadas de culturas de interesse, mas também o vento, água de chuva, a irrigação são outros fatores de disseminação, fazendo com que acabem permanecendo na área. Muitas dessas plantas não têm nenhum uso definido, por isso são daninhas e milhões de reais anualmente são usados em custos para manejo e prejuízos.

O professor Pedroso explica que vai depender do tipo de plantação se uma área está infestada ou não por ervas daninhas. “Como não são seres microscópicos, basicamente uma visita à área já é o suficiente para ver a infestação dessas plantas. Como as culturas agrícolas em geral, como soja, milho, algodão são semeadas em linha, a semeadora vai passando nas linhas e depositando a semente, é fácil perceber o que está fora dessas linhas e que em teoria são plantas daninhas e indesejadas nessa localidade. Temos vários tipos de plantas daninhas, desde aquelas mais conhecidas e tradicionais, como a tiririca, por exemplo, cujo nome vem do tronco linguístico tupi-guarani, que significa arrastar-se, porque ela se dissemina por baixo da terra.” São caules modificados, chamados de rizomas, que vão se espalhando e deixando descendentes para dentro da terra, por isso, então, a necessidade de identificação de uma planta daninha. “Temos tipos que nós chamamos botanicamente de plantas que são mais herbáceas, são as ervas, e podemos também caracterizar como plantas que são arbustos ou arbóreas, arbustivas – no caso as menores – até árvores como a leucena, por exemplo, a mamona.”
Há várias formas de classificação dentro da área de botânica, como, por exemplo, as leguminosas ou as gramíneas, são vários tipos, até chegar àquelas que são consideradas as plantas parasíticas, problemáticas ou até plantas tóxicas, plantas em pastagens, por exemplo, que podem até levar à mortalidade dos animais se consumidas.
Competição por recursos
Pedroso explica que a infestação causa estragos nas plantações porque há uma competição por recursos. “Elas são plantas, assim como as plantas cultivadas, que necessitam de água, luz, nutrientes para crescimento, do espaço, gás carbônico para fotossíntese. Então, quando você tem uma lavoura infestada, elas estão utilizando aqueles recursos limitantes e sobram menos para a cultura, então você vai produzir menos. Esse é o impacto direto, como nós chamamos. Mas elas também podem interferir de forma indireta, principalmente na forma de problemas na colheita. A colheita mecanizada, por exemplo, acaba sendo dificultada, muitas vezes tem que parar o maquinário para desenrolar, livrar a plataforma de corte. Isso pode até ser perigoso para os trabalhadores.”
Geralmente as culturas anuais de soja, milho, algodão têm um período de mais ou menos um mês ou um pouco mais em que as plantas daninhas são mais importantes, depois a própria cultura vai conseguir suprimir o crescimento. Geralmente culturas de ciclo mais lento precisam de mais atenção por ser um período mais longo até que as plantas atinjam um porte suficiente para o sombreamento das plantas daninhas.
Para dar fim às ervas daninhas, que têm uma grande capacidade reprodutiva, a melhor forma de manejo dessas espécies é basicamente “reduzindo o banco de sementes no solo, aplicando formas de manejo integrado de plantas daninhas, com diferentes ferramentas para atuar em conjunto e diminuir a infestação a longo prazo de forma econômica, sejam essas formas de manejo químico, com controle químico, controle com a própria cultura, utilizando sementes de qualidade, evitando que a área fique em pousio, uma lavoura fique sem cultivo por um tempo, onde as plantas daninhas acabam se desenvolvendo e produzindo sementes, deixando muitos descendentes. E também formas de controle mecânico, com roçadoras e até preparo de solo em algumas situações mais extremas, com grades, gradagens e arações para realmente, a longo prazo, diminuir gradualmente essa infestação, facilitando o manejo”.
Jornal da USP no Ar
Jornal da USP no Ar no ar veiculado pela Rede USP de Rádio, de segunda a sexta-feira: 1ª edição das 7h30 às 9h, com apresentação de Roxane Ré, e demais edições às 14h, 15h, 16h40 e às 18h. Em Ribeirão Preto, a edição regional vai ao ar das 12 às 12h30, com apresentação de Mel Vieira e Ferraz Junior. Você pode sintonizar a Rádio USP em São Paulo FM 93.7, em Ribeirão Preto FM 107.9, pela internet em www.jornal.usp.br ou pelo aplicativo do Jornal da USP no celular.