Na cidade de SP, carros particulares são responsáveis por cerca de 73% dos gases de efeito estufa

Paulo Saldiva comenta dados que atestam ser os escapamentos dos veículos os grandes responsáveis, hoje, pela poluição atmosférica na capital

 04/12/2024 - Publicado há 3 meses
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A imagem mostra um skyline de cidade em silhueta contra um céu nublado e escuro
Atualmente, 70% das emissões de gases de efeito estufa no mundo são provenientes das cidades – Foto: 123RF
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Segundo o Inventário de Emissões Atmosféricas do Transporte Rodoviário de Passageiros no Município de São Paulo, lançado em 2017, apenas os carros particulares são responsáveis por cerca de 73% dos gases de efeito estufa; em contrapartida, carregam só 30% dos passageiros. De acordo com a Prefeitura do município da cidade de São Paulo, todo o setor de transportes era responsável por cerca de 61% dos lançamentos dos mesmos gases. Os dados indicam que, quanto mais carros nas ruas, mais poluição. 

O trânsito não é responsável apenas pela poluição do ar, mas por problemas que podem causar à saúde  estresse, fadiga, diminuição da qualidade de vida, problemas alérgicos e respiratórios, além de câncer, e são apenas alguns dos malefícios recorrentes para aqueles que têm sua rotina baseada em horas estagnadas nas ruas. E quais seriam as soluções para diminuir tantos efeitos negativos do trânsito? Sem dúvida, a resposta passa por uma diminuição também da necessidade dos carros.

Atualmente, 70% das emissões de gases de efeito estufa no mundo são provenientes das cidades, sendo que quase a metade é originada dos transportes urbanos, em maior parte, pelos carros de transporte privativo. O número de automóveis aumentou de forma demasiada nas ruas da cidade, com isso ocorre uma diminuição de pessoas circulando nos espaços urbanos. O transporte público representa uma ótima estratégia para enfrentar questões relacionadas à sustentabilidade. 

Homem branco, de bigode e cavanhaque, usando óculos e trajando camisa azul clara
Paulo Saldiva – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Tempo em congestionamentos

O médico patologista e professor da Faculdade de Medicina da USP Paulo Saldiva, especialista em poluição ambiental ligada a saúde humana, explica que os motivos são diversos para a locomoção na cidade: desde a distância entre emprego e moradia até escola. “Levamos uma tonelada de carros para a rua para carregar 70 kg ou 80 kg de pessoas” , avalia. Ele ressalta que não adianta produzir carros mais limpos se aumentou o número deles circulando. Cerca de 30% a 40% da cidade de São Paulo é ocupada por asfalto, o que faz a população perder mais tempo em congestionamentos. Em outros tempos, a poluição vinha das indústrias, agora vem do escapamento dos  carros. 

Com tanta poluição no ar é fácil falar das doenças que atingem os paulistanos. A primeira delas é o sono, tanto pela falta dele para locomoção quanto pela dificuldade de conseguir dormir com o barulho, sem contar os agravos à saúde causados pela poluição do ar, como as infecções respiratórias, por exemplo. “Cada paulistano vai fumar de um cigarro a dois por dia, em um deslocamento de duas a três horas. Somos fumantes passivos no trânsito de São Paulo”,  explica o especialista.

A utilização de rios para o transporte, as hidrovias, em uma cidade como São Paulo já foi cogitada em 1920, mas foi esquecida com a chegada da indústria automobilística. Sobre os horários de pico, não existe mais o melhor ou pior momento para circular pela cidade no que se refere à poluição. Um estudo realizado na Faculdade de Saúde Pública USP comprovou isso. Os pesquisadores realizaram um estudo em que avaliaram a exposição a poluentes atmosféricos durante deslocamentos por meio de diferentes tipos de transporte em São Paulo – incluindo carro, ônibus, Metrô e bicicleta – e regiões da cidade. Os resultados revelaram que os moradores da região oeste da capital estão expostos a uma concentração maior de um poluente atmosférico chamado carbono negro. Já as com melhores condições de qualidade do ar foram aquelas que apresentavam maior concentração de áreas verdes. Em contrapartida, as regiões com qualidade intermediária do ar tinham maior presença de edifícios altos, que desfavorecem a dispersão da poluição do ar. 


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