A conquista por espaço em carreiras, tradicionalmente, dominadas pelo universo masculino é um grande desafio para as mulheres. Lidar com o preconceito é uma tarefa árdua, porém diversas profissionais questionaram essa realidade e hoje são referências para as novas gerações. Com intuito de dar espaço para as histórias dessas mulheres, o Genera, Núcleo de Pesquisa em Gênero, Raça e Sexualidade da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da (FEA) da USP, organizou, entre os dias 16 e 20 de maio, diversos debates sobre a atuação feminina, tanto no campo político e acadêmico, como em áreas do mercado financeiro, consultoria e empreendedorismo.
O Simpósio foi coordenado pela professora Silvia Pereira de Castro e pelas pesquisadoras Itali Pedroni Collini e Ana Carolina Costa. A organização do evento também contou com ajuda da Pró-Reitora Adjunta de Cultura e Extensão da USP, Ana Cristina Limongi e da pesquisadora do Genera, Amanda Carqueijo. Com o tema “Mulheres: Escolhas e Carreira”, o evento buscou debater as barreiras que as profissionais enfrentam.
A militante do Movimento Mulheres em Luta e aluna da Escola de Artes e Comunicações da USP (ECA), Giulia Castro, discutiu sobre a naturalização do machismo. Também abordou as dificuldades de lutar pelo espaço dentro dos movimentos políticos, que muitas vezes é relegado aos homens. Ela menciona que as militantes também são assediadas nesses ambientes.
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Já a advogada Michelle Sopper ressaltou as travas internas que as mulheres têm e não sabem. “Eu não percebi que estava perdendo meu espaço, que estava deixando de assumir posições”, explicou a advogada. Ela não notava que dificilmente manifestava suas opiniões.
Ser negra no mercado de trabalho também não é fácil. A professora da Faculdade Cásper Líbero, Bianca Santana, expôs que parte da população, ainda hoje, não consegue ver as mulheres negras em cargos de chefias ou mesmo como docentes. Em seu trabalho, muitos alunos, a princípio, não a reconheciam como professora nos corredores. “O racismo está impregnado em nossa sociedade”, enfatiza Bianca.
A mulher e o direito
Apesar da Constituição de 1988 afirmar que homens e mulheres têm direitos iguais, a aplicação dessa lei ainda é muito difícil. A advogada e doutorando da USP, Maíra Zapater, discutiu esse tema e lembrou que quando era professora teve que explicar, em sala de aula, que até 2003, legalmente, se o homem descobrisse que a esposa foi deflorada, ele poderia anular o casamento. Para ela, o mais impactante era que além de estar na lei, isso não era questionado.
A ditadura militar também trouxe tempos obscuros para as mulheres. A professora e ex-senadora Eva Blay lembrou que atuação feminina neste período foi bem expressiva. Segundo ela, a busca pela restauração democrática era o laço que as unia, independente de seus posicionamentos partidários. Além disso, a docente também criticou a falta de representatividade feminina nos ministérios levando a reflexão sobre quais contribuições as mulheres poderiam trazer para a política.
Mulheres Empreendedoras
Silvia destacou que um dos objetivos do evento foi mostrar diferentes possibilidades de carreiras para as mulheres, o empreendedorismo feminino é um exemplo. Dessa forma, o encontro trouxe um painel apresentando diversos negócios sociais, inclusive de empresas ligadas à temática de gênero.
Uma das presentes foi a fundadora do Think Olga, Luise Bello. A ONG luta pelo empoderamento feminino e contra o assédio nas vias públicas. O Atena Haus também é uma iniciativa interessante, idealizado pela empresária Natália Fava, o portal divulga vídeos para auxiliar as mulheres com os negócios.
O papel do Genera
De acordo com Itali, o grupo surgiu para tratar assuntos pouco explorados na FEA, como gênero, raça e sexualidade, incentivando o crescimento de estudos relacionados a essas temáticas. Para Silvia, o núcleo procura fomentar pesquisas que busquem o empoderamento feminino. A contabilidade, por exemplo, pode ser uma ferramenta de auxílio para as mulheres terem domínio do seu empreendimento.
A professora ainda ressalta que no campo acadêmico a falta de referência feminina é expressiva. Para ela, o número de docentes na FEA é muito pequeno. “Faltam modelos femininos, falando para as alunas sobre os problemas que as mulheres enfrentam”.