
Esta semana, a cidade do Rio de Janeiro sofreu com fortes chuvas, que provocaram deslizamentos e alagamentos em diversos bairros e provocaram dez mortes. Considerada uma chuva totalmente atípica, a pergunta que fica é se esse tipo de tragédia poderia ser evitada. O Ambiente é Nosso Meio desta semana, com Pedro Luiz Côrtes, professor da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, do Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP e do Projeto Temático Fapesp – Governança Ambiental da Macrometrópole Paulista -, traz uma análise do aumento da frequência das chuvas atípica, sobretudo nos grandes centros urbanos, e da atuação dos gestores públicos diante dessa problemática.
Côrtes expõe dados reveladores do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet): no dia 9 de abril, o volume da chuva no Forte de Copacabana foi igual a 288 mm. No entanto, a precipitação média para o mês de abril, considerando os dados dos últimos 30 anos, fica em torno de 95 mm – isso para todo o mês. Ou seja, em determinadas localidades do Rio de Janeiro, choveu em 24 horas três vezes mais do que o previsto para todo o mês. “O grande problema é que esse tipo de evento está deixando de ser atípico e se enquadra dentro de um grau de ‘normalidade’”, diz o professor.
Em contrapartida, os grandes centros como São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Belo Horizonte não possuem aptidão para lidar com essas catástrofes. Há um aumento pungente no volume anual médio de chuvas, bem como eventos críticos como chuvas acima de 50 mm em 24 horas. Mas “falta uma cultura de prevenção que procure se antecipar a esses eventos extremos”, explica Côrtes. O poder público ainda não incorporou essa problemática em suas ações políticas.
“Não podemos desconsiderar as previsões climáticas na gestão dos municípios, tanto para os sistemas de drenagem de águas pluviais quanto para o sistema de saúde”, enfatiza o professor. O aumento das chuvas provoca maior risco de endemias, como dengue, zika e chikungunya, além de doenças mais facilmente transmissíveis por via hídrica, como é o caso da leptospirose.
Segundo Côrtes, as mudanças climáticas são uma realidade e já estamos lidando com suas consequências. “Não estamos apenas cobrindo o factual, mas informando como o clima está se comportando e o que precisa ser feito”, comenta. O clamor é que esses alertas sejam considerados pelos gestores públicos.