A determinação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) de suspender os testes da vacina CoronaVac causou reações diversas. Num post em rede social, o presidente Jair Bolsonaro comemorou a decisão como se fosse uma vitória sobre o governador de São Paulo, João Doria. A CoronaVac é desenvolvida pela empresa chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan. A pausa nos testes teria sido motivada por um ‘evento adverso grave’, ou seja, o óbito de um dos voluntários, que mais tarde foi atestado como suicídio pela Polícia Civil do Estado de São Paulo e, portanto, sem relação direta com a vacina. Segundo especialista, a suspensão dos testes foi resultado da má comunicação entre a Anvisa e o Instituto Butantan.
Em entrevista ao Jornal da USP no Ar, o professor Gonzalo Vecina Neto, do Departamento de Política, Gestão e Saúde da Faculdade de Saúde Pública da USP, ex-secretário nacional da Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde e ex-diretor da Anvisa, explica que o Instituto Butantan informou detalhadamente o caso de óbito do voluntário durante os testes da CoronaVac à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e não fez o mesmo com a Anvisa, portanto, a falta de informação e comunicação foi determinante para que o órgão optasse pela paralisação dos testes. No caso do evento adverso grave, não foi divulgado se o voluntário tomou vacina ou placebo.
Conforme o professor Vecina Neto, o desenvolvedor da vacina precisa demonstrar à Anvisa que o óbito, como foi o caso, ou qualquer outra reação não esperada que surja em algum voluntário, não tem relação com a vacina. Caso esse detalhamento não aconteça, o órgão regulador deve pausar os testes do imunizante. Para ele, manter na oratória que o caso de suicídio do voluntário dos testes da CoronaVac não teve relação com o produto não é suficiente, porque é preciso comprovar: “O Instituto Médico Legal deve comprovar se houve overdose e se foi intencional ou não. Nós só podemos supor. Os ingredientes utilizados na produção da vacina não têm condição de causar quadros de depressão ou qualquer outra doença que leve alguém ao suicídio”.
A partir dos resultados, é preciso comunicar às agências reguladoras. Na visão do especialista, não houve diálogo com a Anvisa: “O que houve foi um problema de comunicação entre a Anvisa e o Instituto Butantan. Tentar clarear essas coisas com papel, sem conversar, é muito mais difícil”. Recentemente, o Comitê Internacional Independente recomendou que a Anvisa autorizasse a retomada dos testes, o que, para Vecina Neto, seria o correto a fazer.
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