A Organização das Nações Unidas vem alertando que a meta do Acordo de Paris, assinado em 2015, de limitar o aumento da temperatura média global “abaixo de 2°C em relação aos níveis pré-industriais”, corre o sério risco de não ser alcançada. Isso porque as principais economias, incluindo os Estados Unidos e a União Europeia, estão aquém de suas promessas.
O planeta está agora quase um grau mais quente do que estava antes do processo de industrialização, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM). Os 20 anos mais quentes da história foram registrados nos últimos 22 anos, sendo que os anos de 2015 a 2018 ocupam os quatro primeiros lugares do ranking, diz a OMM. O ano passado, por exemplo, bateu todos os recordes. Se essa tendência continuar, as temperaturas poderão subir de 3 a 5 graus até 2100.
Mas, afinal, o quão quente o planeta ficou e o que podemos fazer em relação a isso?
Para falar sobre mudanças climáticas e as possíveis soluções, o Diálogos na USP recebeu os professores Emerson Galvani, do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, presidente da Associação Brasileira de Climatologia entre 2008 e 2010, e Marcelo Marini Pereira de Souza, titular da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo e presidente da Associação Brasileira de Avaliação de Impacto.
Marcelo Marini alerta para o fato de que as mudanças climáticas já estão ocorrendo, não é algo que ocorrerá no futuro. “Não é um clique para daqui a pouco, esse clique já aconteceu”, comenta. Segundo o professor, os problemas não têm apenas viés econômico, mas também um grande impacto ambiental, sendo que “o grande problema ambiental hoje é a perda de biodiversidade”, causada principalmente pela ação humana e por essas mudanças no clima. “O ser humano insiste em contribuir com esse processo e não atender às questões globais, atendendo apenas aos interesses econômicos”, afirma.
Emerson Galvani destaca que não há mais dúvidas de que o planeta está esquentando: “Hoje já é consenso que a temperatura está aumentando, tanto em áreas urbanizadas quanto não urbanizadas”. De acordo com o professor, a causa seria “uma força natural, associada aos ciclos geológicos, e uma força humana”. Ele cita como exemplo de força humana os veículos que utilizamos no dia a dia e que liberam gases estufa.
A solução passaria por medidas de Estado, não apenas de um governo, comenta Galvani. “Uma política pública, continuada, independentemente do partido que esteja no poder”, complementa. O professor destaca mudanças ocorridas no Brasil nos últimos governos, apontando para a mudança no Ministério do Meio Ambiente, “que perdeu grande parte das suas funções e está atrelado aos grandes latifúndios”. Isso tudo pode ser prejudicial para ambos os lados, “gerando uma desorganização das atividades do agronegócio e das atividades de preservação e conservação ambiental”.
Já Marini atenta para o fato de a sustentabilidade só ter entrado em pauta por ter se tornado algo importante para a economia mundial: “O mercado internacional passou a considerar o meio ambiente, porque senão o investidor perde reputação”. Porém, o professor acredita que “a questão ambiental não pode estar a reboque das questões econômicas, ela tem a sua roupagem”. Essa sobreposição dos interesses financeiros estaria contribuindo para a perda das questões da área ambiental.
.
.
O Diálogos na USP tem apresentação de Marcello Rollemberg, produção da Editoria de Atualidades do Jornal da USP e da Rádio USP e trabalhos técnicos de Rafael Simões.