Perder o emprego quase sempre provoca sofrimento, tanto para quem ficou desempregado quanto para familiares e amigos próximos. Mas e quando a situação perdura por muito tempo ou obriga o profissional a mudar de atividade e aceitar outros tipos de trabalho?
Marcelo Afonso Ribeiro, do Instituto de Psicologia da USP (IP), aponta que o trabalho é algo central para a vida das pessoas. E no momento em que se perde o emprego, há a perda “da referência de vida”, já que muitas vezes o indivíduo tem de exercer uma profissão diferente daquela que estudou para garantir sua sobrevivência. Para ele, em tal situação, “a pessoa vai perdendo o sentido do trabalho em seu significado e, ao invés de se tornar algo prazeroso, se torna um fardo”, causando impactos também para as pessoas que convivem com o sujeito, independentemente de seu gênero ou situação socioeconômica. Em muitas situações de desemprego, a pessoa carrega um sentimento de culpa, como se ela tivesse gerado tal situação, ou por uma suposta falta de estudo ou de esforço.
O docente do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho do IP considera que o discurso da crise e dos altos índices de desemprego tem forte impacto sobre a população, mas salienta que é necessário que o indivíduo se localize dentro desse discurso e pense o quanto tais números influenciam em sua vida. “Essa avaliação nem sempre é fácil, porque somos sempre ‘bombardeados’ de que a situação ‘está ruim’, diz. Ainda segundo ele, em meio ao sentimento de impotência diante de tal discurso, o trabalhador acaba por se sentir fragilizado em termos de poder de negociação, aceitando trabalhar em situações que normalmente não aceitaria.