Dados da OMS mostram que o Brasil é um dos países com maior incidência de tuberculose no mundo

Valdes Roberto Bollela fala que a covid-19 mobilizou toda a atenção do sistema de saúde e casos de tuberculose deixaram de ser diagnosticados quando se liberava o paciente não infectado pelo coronavírus

 08/04/2022 - Publicado há 3 anos     Atualizado: 11/04/2022 às 13:31
O desafogamento do Sistema Único de Saúde (SUS) é crucial para a retomada dos tratamentos contra tuberculose – Foto: Freepick
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O Dia Mundial de Combate à Tuberculose (24/3) chegou acompanhado de dados preocupantes. Segundo levantamento divulgado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o número de mortes pela tuberculose subiu 20% entre 2019 e 2020, saltando de 1,2 milhão para 1,5 milhão de casos. No mesmo período, o levantamento mostra que o número de pessoas que sofrem de tuberculose e não foram diagnosticadas e notificadas subiu 29%, passando de 2,9 milhões para 4,1 milhões de pessoas. Em 2020, o Brasil registrou 66.819 novos casos de tuberculose e ficou entre os 22 países com maior incidência da tuberculose no mundo, segundo a OMS. Atualmente, a tuberculose segue sendo uma das doenças infecciosas mais mortais do mundo, com aproximadamente 30 mil casos e 4,5 mil mortes registradas todos os dias. 

Para o especialista em moléstias infecciosas Valdes Roberto Bollela, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, o crescimento no número de casos de tuberculose no mundo foi agravado pela pandemia de covid-19. Ele explica que “todos os casos com suspeita de doença no pulmão foram investigados como covid”. Ao descartar a possibilidade da doença, o paciente era liberado, “sem que houvesse um aprofundamento da investigação”, com muitos casos de tuberculose deixando de ser diagnosticados.

Sistema Único de Saúde e vacinação no controle da tuberculose

Frente a esse cenário, Bolella explica que o desafogamento do Sistema Único de Saúde (SUS) é crucial para a retomada dos tratamentos contra tuberculose. Isso só seria possível através da vacinação da população, que foi dificultada pelo movimento antivacina, afirma o professor. Antes, “a cobertura vacinal era de 95% a 97%, e agora está em torno de 60% a 70%”.

Ainda segundo Bolella, o Brasil só teve “um controle minimamente organizado da pandemia por conta do SUS”. Nesse período, o controle da tuberculose era quase impossível, mas agora, com a melhora das condições sanitárias, “o tratamento das duas doenças pode e deve ser realizado”, reforça o professor.

Diagnóstico e tratamento da tuberculose

O diagnóstico da tuberculose é feito principalmente através das queixas apresentadas pelo paciente. Segundo o professor, sintomas como tosse, expectoração e a presença de catarro, com ou sem sangue, são comuns em pacientes diagnosticados com a doença. Além disso, Bolella reforça que a duração dos sintomas, no caso da tuberculose, pode chegar a três meses, enquanto em doenças como a gripe, os sintomas desaparecem em alguns dias.

Valdes Roberto Bollela – Foto: Researchgate

Outro ponto importante destacado pelo professor é o tratamento de pessoas que tiveram contato próximo com pacientes diagnosticados com tuberculose. Ele explica que “existem procedimentos voltados exclusivamente para a prevenção da infecção, ou seja, pessoas que foram expostas à doença podem contar com um tratamento especializado que impede o avanço da tuberculose”.

Todo esse processo deve ser feito em unidades de saúde próximas, que realizam o procedimento de avaliação para determinar quais medidas serão tomadas no tratamento de pacientes com tuberculose e das pessoas que tiveram contato com a doença.

Por Ferraz Júnior e Vinicius Botelho


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