Crises de escassez hídrica podem ser potencial fator para estopim de conflitos no mundo

Especialistas comentam que alterações climáticas e má gestão do recurso revelam e ampliam questões ambientais e geopolíticas envolvendo a oferta de água no planeta

 25/11/2022 - Publicado há 2 anos     Atualizado: 13/12/2022 às 19:12
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A água tem uma importância social que acompanha toda a história da humanidade – Foto: Reprodução/Governo do Estado de São Paulo
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Como bem imprescindível para a vida, a água se demonstra como um dos recursos que mais sofrem com as alterações climáticas. As guerras hídricas são ocasionadas por disputas geopolíticas resultantes da disponibilidade e distribuição do recurso. Principalmente nos locais em que a água é historicamente escassa, houve conflitos, como na Turquia, no Iraque e na fronteira do México com os Estados Unidos. 

Essencial para o desenvolvimento de atividades como a agricultura e o abastecimento de água potável, o recurso tem uma importância social que acompanha toda a história da humanidade. A pressão por ele é ampliada à medida que há o crescimento populacional e o recrudescimento dos impactos do aquecimento global, com as alterações climáticas levando a crises hídricas mais severas. 

Paulo Saldiva – Foto: Marcos Santos/USP Imagens

Questões geográficas e humanitárias

As causas desses conflitos podem parecer totalmente naturais, com influência das ações humanas no meio ambiente, em um primeiro momento. Porém, se falta água, há pessoas lutando pela sobrevivência. O professor Paulo Hilário Saldiva, da Faculdade de Medicina da USP, coloca as questões culturais e sociais como um dos fatores-chaves para o acontecimento desses conflitos. Para ele, o predomínio de um nacionalismo extremado, migrações forçadas e as desigualdades econômicas são potenciais impulsionadores de um problema latente, relacionado ao avanço das alterações climáticas. 

A escassez hídrica afeta aproximadamente 40% da população mundial. Isso abrange os corpos hídricos superficiais e aquíferos, que podem expor impasses fronteiriços, já que envolvem diferentes regulamentações sobre o uso de determinados rios. A gestão desses corpos hídricos é colocada como principal problema a ser observado pelo professor Wagner Costa Ribeiro, do Departamento de Geografia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP: “Muitas vezes, não se sabe exatamente como é a reposição da água ou de que forma a água é utilizada em cada país”. 

Ribeiro também comenta que a abundância de água pode ser um impulsionador de impasses entre regiões. Ele explica que, principalmente em regiões de fronteiras delimitadas por corpos hídricos, a construção de hidrelétricas, desvios e manejo da água podem ser estopim de guerras e de conflitos. 

Desde muito antes da pauta ambiental receber a devida importância, o represamento de água para evitar períodos de longa estiagem e o desvio de corpos hídricos culminaram em conflitos. Um exemplo utilizado por ele envolve um antigo conflito na fronteira dos Estados Unidos com o México, em que foi necessário um “acordo” para cessar o impasse político. Nesse caso, o México precisou devolver a água utilizada do Rio Colorado, a partir de uma “operação assimétrica”. 

Possíveis soluções

Se antes a questão da escassez hídrica já era um problema, as alterações climáticas podem potencializar e resultar em longos períodos de estiagem. Zonas áridas sempre existiram no globo terrestre, mas a ampliação do número dessas regiões chama a atenção, portanto, medidas para controlar os impactos das alterações climáticas são fundamentais. O professor Wagner Costa Ribeiro diz que maneiras mais sustentáveis de manejo e distribuição do recurso são importantes para atividades como a agricultura, pautadas em políticas públicas. 


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