Estudo encontra associação entre tipo sanguíneo e risco de AVC precoce

Ainda não é possível afirmar que pessoas de determinado grupo sanguíneo estão mais suscetíveis ao AVC precoce, mas o estudo pode abrir portas para que a comunidade científica investigue melhor que fatores podem estar relacionados ao achado

 23/09/2022 - Publicado há 2 anos     Atualizado: 25/09/2022 as 19:23
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O tipo sanguíneo A predominou em comparação com pessoas que tiveram AVC com 60 anos ou mais ou nunca tiveram – Foto: Freepik/Fotomontagem Jornal da USP
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Em um estudo publicado no periódico Neurology, pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de Maryland, nos Estados Unidos, encontraram associação entre ser do tipo sanguíneo A ao risco aumentado de sofrer um Acidente Vascular Cerebral (AVC) antes dos 60 anos.

A partir de um compilado de 48 estudos feitos na América do Norte, Europa, Japão, Paquistão e Austrália sobre genética e AVC isquêmico — que acontece pelo entupimento de veias e artérias responsáveis pela irrigação de diferentes partes do cérebro —, cientistas analisaram os dados de 17 mil pessoas que sofreram derrame ao longo da vida e quase 600 mil participaram do grupo controle e nunca desenvolveram a doença.

Durante a análise, os pesquisadores notaram que o tipo sanguíneo A predominou em comparação com pessoas que tiveram AVC com 60 anos ou mais ou nunca tiveram: para essas pessoas, o risco de ter um derrame precoce foi 16% maior. Já para aqueles com o tipo O, o risco foi 12% menor.

Associação de genoma

Guilherme Diogo – Foto: Arquivo pessoal

“O estudo é de associação de genoma. Ele consegue ver essa relação, mas não testa o mecanismo dela. Então, ele traz algumas hipóteses junto com outros estudos. Uma das ideias é que o sistema ABO é dado por glicoproteínas que, além de estarem nos glóbulos vermelhos, também têm relação com proteínas em plaquetas na parede dos vasos. Isso muda os fatores de coagulação e foi mostrado em outros estudos anteriores uma mudança de fator de coagulação. Quem é do tipo A tem uma tendência maior a fazer coágulos e também tem mais trombose venosa”, explica Guilherme Diogo, neurologista no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Atuando nas áreas de neuroimunologia e de emergências neurológicas, o médico esclarece que, com base nas evidências científicas até o momento, ainda não é possível afirmar que pessoas com o grupo sanguíneo A estão mais suscetíveis ao AVC precoce, mas essa descoberta internacional pode abrir portas para que a comunidade científica entenda melhor quais fatores podem estar relacionados às conclusões da pesquisa.

“A ideia desses estudos de risco por genética é combinar vários fatores. Por exemplo, a gente pode juntar várias dessas mutações genéticas a fatores ambientais também. Será que eu vou conseguir desenvolver mais algum exame, mais algum tratamento precoce a partir daquela mutação? Sozinho, esse estudo não vai conseguir fazer isso, mas pode ser um passo para virar algo complexo”, finaliza o especialista.


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