“Há cerca de duas semanas, um feito científico gerou manchetes de primeira página em jornais do mundo inteiro: a primeira imagem reconstruída de um buraco negro”, destaca o professor Paulo Nussenzveig na coluna Ciência e Cientistas. “Como já faz algum tempo que tenho falado em questões ligadas ao funcionamento da ciência e não tenho falado em cientistas inspiradores, que exemplificam as razões pelas quais nos dedicamos a essa atividade, resolvi usar a imagem do buraco negro para falar do grande cientista que cunhou essa terminologia. O físico norte-americano John Archibald Wheeler teve uma longa e profícua carreira, com contribuições em várias áreas diferentes da Física”.
Wheeler nasceu em 1911 e faleceu, aos 96 anos, em 2008, e teve como um de seus mentores o dinamarquês Niels Bohr, um dos mais importantes criadores da física quântica. “A física dos buracos negros é derivada da teoria da relatividade geral, formulada por Einstein em 1915. Ainda em 1915, o físico alemão Karl Schwarzschild mostrou que as equações levavam a soluções com ‘singularidade’ no espaço-tempo: pontos onde grandezas da teoria seriam infinitas”, conta o físico. “Essas soluções geraram controvérsias, levando diversos físicos a considerarem que eram apenas artefatos matemáticos que não poderiam ocorrer na natureza”.
“A teoria havia se tornado mais um ramo da Matemática do que da Física. No início dos anos 1950, o professor da Universidade de Princeton, Wheeler, resolveu se dedicar ao assunto e, juntamente, com seus vários estudantes, começou a formular questões que poderiam ser respondidas com a teoria”, diz Nussenzveig. “Inicialmente cético em relação à existência de singularidades do espaço-tempo na natureza, como afirmou em disputa pública com o célebre físico Robert Oppenheimer, Wheeler teve a grandeza de reconhecer posteriormente que estava errado, quando previsões de efeitos físicos começaram a se popularizar. Foi numa conferência em 1968 que, respondendo a uma sugestão anônima da platéia, Wheeler usou o termo ‘buraco negro’ para descrever essas singularidades. Depois disso, o termo se popularizou”.
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